Israel assume ataque a mais uma escola da ONU e muda peças da estratégia militar

Movimentações de retirada de tropas terrestres parecem confirmar alteração da estratégia israelita em Gaza. Ban Ki-moon condenou o “criminoso” ataque.

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Movimentos militares israelitas em Gaza Baz Ratner/Reuters

Se Israel está a mudar a agulha da guerra em Gaza, como parecia indiciar a retirada de parte das suas tropas terrestres, o dia de domingo esteve muito longe de se traduzir em mudanças para quem sofre os efeitos do conflito: novos bombardeamentos causaram dezenas de mortos palestinianos. O caso mais chocante foi um ataque aéreo a uma escola das Nações Unidas, o terceiro em dez dias.

A imprensa israelita noticiou na tarde deste domingo que a maior parte das suas tropas estava a sair de Gaza . O porta-voz do exército, Peter Lerner, confirmou-o à AFP. “Retirámos algumas [tropas terrestres], mudámos outras de [posição]”, disse. A Reuters TV divulgou imagens que mostravam uma coluna de tanques e dezenas de soldados de infantaria a deixarem o território.

O ataque à escola, em Rafah, que provocou a morte de pelo menos dez pessoas, não foi de imediato assumido por  Israel, que acabou por o fazer a meio da tarde. Os Estados Unidos condenaram o "vergonhoso" ataque. E o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou que o exército israelita foi “numerosas vezes informado da localização” dos refúgios da organização. Num comunicado do seu porta-voz, Ban qualifica o ataque como um “escândalo do ponto de vista moral” e um “acto criminoso”. “Esta loucura deve parar”, disse também, de acordo com as citações da AFP.

Um repórter da agência descreveu a situação após o ataque à escola: equipas de socorro a desdobrarem-se na ajuda aos feridos, homens e mulheres a correrem, sem fôlego, com crianças nos braços. No recinto tinham sido acolhidos cerca de 3000 refugiados. Os anteriores ataques a escolas das Nações Unidas, em Beit Hanun, a 24 de Julho, e em Jabaliya, a 31 de Julho, provocaram cerca de três dezenas de mortos. 

Antes do ataque à escola, bombardeamentos matinais israelitas tinham já matado mais de 30 pessoas este domingo, na mesma área, no sul do enclave palestiniano. Entre essas vítimas incluem-se nove membros de uma mesma família. "Os feridos estão nas ruas e há cadáveres junto às estradas, sem que ninguém os possa recuperar. Vi um homem com uma carroça puxada por um burro a levar sete cadáveres para a morgue, que guarda os corpos em arcas de gelados e frigoríficos", disse à Reuters, após esses primeiros ataques, um dirigente do movimento palestiniano Fatah, residente em Rafah, Ashraf Goma.

Ao fim do dia, os ministério da saúde de Gaza  anunciou que um raide israelita no Norte provocou a morte de mais sete pessoas e 15 feridos.

Mais de 1800 mortos
O número de mortos desde que a actual operação militar começou, a 8 de Julho, subiu para pelo menos 1766 palestinianos - 1772 segundo a Reuters – e mais de 9300 feridos. Israel perdeu 64 soldados e três civis e tem mais de 400 feridos.

A hipótese de uma solução negociada parece completamente afastada, apesar de representantes palestinianos terem viajado para o Cairo, para onde estavam previstas negociações antes da violação de cessar-fogo que devia ter começado sexta-feira.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse no sábado à noite que a operação militar ia entrar numa nova fase apesar de ter mantido a determinação em prosseguir a ofensiva – tal como o Hamas, que exige a partida de todas as tropas israelitas de Gaza. O diário pró-governamental Israel Hayom escreveu que o exército deveria concluir “a neutralização dos túneis do Hamas domingo e deslocar-se mais para junto de Israel”. As movimentações das horas seguintes, já depois dos ataques matinais em Rafah, pareciam confirmá-lo.

Os ataques a Gaza intensificaram-se na sequência do episódio que fez abortar o último acordo de cessar-fogo – um confonto terrestre entre soldados israelitas e militantes palestinianos no qual desapareceu um soldado israelita, Hadar Golding, cuja morte acabou por ser confirmada na noite de sábado. O Hamas acusou Israel de ter enganado o mundo ao dar a entender que o militar poderia estar vivo.

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