Israel libertou 26 palestinianos sem dissipar pessimismo que rodeia negociações

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, chega quinta-feira à região para convencer as duas partes a aceitar um roteiro para um acordo de paz.

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os 26 detidos foram recebidos em festa na Cisjordânia e na Faixa de Gaza Abbas Momami/AFP

Os palestinianos, libertados durante a última madrugada, são o terceiro de quatro grupos (num total de 104 detidos) que Israel se comprometeu a libertar, num gesto destinado a criar condições para o reinício do diálogo com a Autoridade Palestiniana. Os dois primeiros grupos foram libertados em Agosto e Outubro e o último deverá sair da prisão em Fevereiro.

Mas os festejos com que os 26 homens foram recebidos — já uma tradição — voltaram a indignar Israel. “Quando tomamos uma decisão dolorosa para tentar pôr fim ao conflito, vemos os nossos vizinhos e os seus dirigentes a saudar assassinos”, reagiu o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, dizendo que “não é assim que se faz a paz”.

Detidos antes dos Acordos de Oslo, em 1993, os homens agora libertados foram condenados por homicídio ou tentativa de homicídio e cumpriram penas entre 19 e 28 anos de prisão, escreve a BBC.

“Os heróis estão de regresso”, gritaram centenas de pessoas à chegada do autocarro a Ramallah, onde foram recebidos pelo presidente da Autoridade Palestiniana. “Prometemos-vos que esta não será a última libertação e que mais grupos de heróis vão regressar a casa num futuro próximo”, disse Mahmoud Abbas. Três dos elementos do grupo foram levados para a Faixa de Gaza, território controlado pelo Hamas, onde se repetiram os festejos.

Este é apenas um pequeno desentendimento na lista de enormes desacordos que opõem as duas partes e lançam grandes dúvidas sobre o sucesso da nova missão, a décima em menos de um ano, de Kerry a Israel e aos territórios palestinianos, escreve a AFP. A imprensa, citando fontes diplomáticas, adiantou que o chefe da diplomacia americana deverá apresentar pela primeira vez um “acordo-quadro” com as grandes linhas do que deverá ser um entendimento final entre as duas partes, a concluir no prazo de um ano.

A visita acontece dias depois de uma comissão ministerial ter adoptado um projecto de lei que prevê a anexação do Vale do Jordão, na fronteira entre a Cisjordânia e a Jordânia. A iniciativa, de vários partidos da direita, reforça os receios palestinianos de que os colonatos e as ocupações tornem inviável um futuro Estado palestiniano. O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, já avisou que o projecto “constitui uma linha vermelha que ninguém deverá ultrapassar” e, como forma de protesto, a última reunião do Conselho de Ministros do ano foi transferida para a zona, que equivale a quase um terço do território da Cisjordânia.

Como se não bastasse, a imprensa israelita antecipa que serão anunciados nos próximos dias os planos para construir mais 1400 casas para colonos israelitas na Cisjordânia. Os colonatos são ilegais à luz do direito internacional e tanto os EUA como a União Europeia tinham pedido a Netanyahu que se abstivesse de lançar novos projectos.

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