Comités olímpicos desvalorizam ameaças aos atletas que vão a Sochi
Putin não olhou a gastos para garantir um evento bem-sucedido, mas as ameaças dos grupos insurgentes acumulam-se, deixando um clima de intranquilidade.
Na terça-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, conversou por telefone com o homólogo norte-americano, Barack Obama, e Washington prometeu dar “ajuda plena” para garantir uns jogos “seguros e protegidos”. O Pentágono afirmou que vai disponibilizar “meios aéreos e navais, incluindo dois navios da Marinha no Mar Negro” durante os Jogos de Inverno, de forma a responder a “todos os tipos de contingências.”
A polícia russa revelou na quarta-feira que abateu um homem suspeito de ataques em vários pontos do país e líder de um grupo radical do Dagestão e que está à procura de uma mulher que foi vista perto de Sochi.
Especialistas dos serviços secretos norte-americanos, citados pela Reuters, consideram que as elevadas medidas de segurança em torno dos Jogos de Inverno tornam improvável um ataque em Sochi. Advertem, contudo, que as ameaças podem vir a materializar-se noutros locais da Rússia.
Putin apostou alto no sucesso dos “seus” Jogos de Inverno, que encara como um legado, não olhando a rublos para o conseguir. O custo dos jogos já ultrapassou em 500% o orçamento inicial, fazendo da edição de 2014 os Jogos de Inverno mais caros de sempre. No total calcula-se que foram gastos 36 mil milhões de euros, à frente de Vancouver em 2010 (1,4 mil milhões) e de Turim em 2006 (3,4 mil milhões). Só no esquema de segurança montado para os jogos foram gastos cerca de 2,2 mil milhões de euros e vão estar envolvidos perto de 40 mil efectivos.
As garantias da organização estão longe de trazerem a tranquilidade desejada. Depois da difusão de um vídeo em que dois membros de um grupo islamita do Cáucaso do Norte ameaçam atacar Sochi, esta quarta-feira foi a vez dos próprios comités olímpicos receberem intimidações.
Os comités olímpicos da Hungria, Itália, Alemanha, Eslovénia e Eslováquia receberam cartas com ameaças às suas delegações. No entanto, os dirigentes desvalorizaram a situação, negando a veracidade da ameaça. O autor das cartas terá sido uma pessoa “que tem enviado todo o tipo de mensagens a vários membros das famílias olímpica”, revelou à Reuters o director das relações internacionais do Comité Olímpico Húngaro, Zsigmond Nagy. O Comité Olímpico Internacional fez eco das declarações do organismo húngaro, sublinhando que se trata “de uma mensagem casual de um membro do público.”
O clima de insegurança não passa ao lado dos atletas e há já quem receie em levar familiares a Sochi. A Folha de São Paulo dá conta de alguns dos 12 membros da delegação brasileira que pediram às famílias para não viajarem para a Rússia. "Eu não tenho medo porque na Vila Olímpica a segurança vai ser máxima. Mas para quem fica fora da vila não vai ser a mesma coisa, por isso o meu pai não vai à Rússia", afirmou o atleta de esqui alpino, Jhonatan Longhi.
A delegação portuguesa conta com apenas dois atletas, aos quais se juntam mais dois treinadores e dois dirigentes. “Estamos confiantes que as autoridades russas garantam a segurança” dos participantes, afirmou ao PÚBLICO o presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal, Paulo Farromba. A federação não vai tomar medidas de segurança adicionais, apesar de o dirigente reconhecer que há alguma “apreensão”.