Ianukovitch e Putin discutem Ucrânia em Sochi

Governo russo acentua a pressão económica sobre a Ucrânia e adverte-a para uma mudança na orientação governamental.

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Ianukovich recebeu Ashton e vai a Sochi falar com Putin Andrei Mosienko/Reuters

“É verdade vão estar em contacto”, disse à agência Interfax Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, confirmando uma informação adiantada pelo ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Leonid Kozhara.

Ainda que não haja prazos para uma decisão sobre um novo Governo – após a demissão do primeiro-ministro Mikola Azarov, na semana passada – admitia-se que Ianukovich quisesse resolver a questão antes de se deslocar a Sochi. A confirmação do encontro parece indicar que Ianukovich quer concertar a decisão com o líder russo.

A Rússia tem feito depender a manutenção de um empréstimo à Ucrânia de 15 mil milhões de dólares (mais de 11 mil milhões de euros, ao câmbio actual), aprovado em Novembro, da formação de um Governo do seu agrado. Ontem, voltou a deixá-lo claro: aumentou a pressão sobre a Ucrânia, admitindo endurecer as exigências de pagamento – e mesmo de fornecimento – de gás natural, caso o governo de Kiev não cumpra os acordos entre os dois países.

“Estamos preocupados com o aumento da dívida do gás… mas esperamos que os nossos parceiros ucranianos cumpram todas as cláusulas do actual acordo”, disse Peskov à rádio Kommersant-FM. O entendimento estabelecido em Novembro – depois de Ianukovich ter denunciado um acordo comercial com a União Europeia, que motivou protestos de rua de manifestantes pró-europeus, nos dois últimos meses – prevê ajuda financeira e um desconto de 30% no preço do gás.

No final de Janeiro, a dívida de gás da Ucrânia era de 3,29 mil milhões de dólares (quase 2,9 mil milhões de euros), segundo informação do grupo Gazprom.

Citado pela AFP, Peskov fez depender a ajuda económica russa das explicações do futuro chefe do Governo sobre “até que ponto seguirá a política da equipa anterior”. “Se todos respeitarem à letra os documentos, ninguém terá de modificar o que quer que seja”, disse ainda.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, incentivou esta quarta-feira em Kiev a Ucrânia a “fazer muito mais” para ultrapassar a crise que abala o país. Ashton disse que a União Europeia está disponível para apoiar reformas e contribuir para a investigação da violência do mês passado. O apoiou à economia ucraniana não será uma “montanha de dinheiro”, disse, após encontros com Ianukovich e com dirigentes da oposição.

A presidência ucraniana disse que no encontro com a responsável europeia foi discutida a reforma constitucional reclamada pelos adversários de Ianukovich. A oposição quer um regresso imediato à Constituição de 2004, o que implicaria a redução dos poderes presidenciais. O chefe de Estado defende uma nova redução da lei fundamental – um processo demorado.

“Devemos regressar à Constituição de 2004 e em seguida discutir uma nova Constituição”, argumentou no Parlamento um dos líderes da oposição, Vitali Klitschko. Caso contrário deverão realizar-se eleições antecipadas, disse ainda, antes de acrescentar que se a decisão não for tomada com rapidez “haverá uma nova escalada de protestos”.

O comissário europeu Stefan Fule anunciou esta quarta-feira que tenciona regressar a Kiev na próxima semana para continuar as tentativas da União Europeia para “facilitar o diálogo político e evitar os cenários mais negativos”.

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