Milícia pró-russa toma edifícios governamentais na Crimeia
Líderes ucranianos dizem a Moscovo que “qualquer movimento de tropas será considerado uma agressão militar”. Crimeia aprovou realização de referendo sobre estatuto de autonomia.
“Dirijo-me aos dirigentes militares da frota do Mar Negro: todos os militares devem permanecer no território previsto pelos acordos. Qualquer movimento de tropas será considerado uma agressão militar”, disse Turchinov numa intervenção no Parlamento, em Kiev. O enviado diplomático da Rússia foi convocado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, que repetiu os avisos de Turchinov.
Moscovo assegurou que "a frota russa no Mar Negro aplica estritamente todos os acordos em questão". O Ministério dos Negócios Estrangeiros acrescentou que "o envio de certos veículos blindados da frota do Mar do Negro foi feita em conformidade com os acordos e não necessita de qualquer aprovação". Durante as manifestações desta semana na Crimeia, foram deslocados dois veículos blindados russos para dois locais de Sebastopol.
É precisamente na cidade portuária de Sebastopol, na Crimeia, única região da Ucrânia onde a maioria da população tem origem russa, que Moscovo tem estacionada a sua frota do Mar Negro. Na quarta-feira, a Rússia já anunciara o início de um grande exercício militar junto à fronteira. “Patrulhas aéreas constantes estão a ser realizadas pelos aviões de combate nas regiões de fronteira”, escreve agora a Interfax, citando o Ministério da Defesa russo. “De momento, receberam ordens para estar em alerta máximo.”
O parlamento regional da Crimeia aprovou, ao início da tarde, a marcação de um referendo sobre a autonomia da província, avançam algumas agências. Foi lançado um comunicado de imprensa que justifica a decisão com as ameaças à paz na Crimeia, que resultam "da tomada inconstitucional do poder na Ucrânia por nacionalistas radicais, com o apoio de grupos criminosos armados".
"Estamos confiantes de que apenas a realização de um referendo sobre o estatuto de autonomia irá ajudar os habitantes da Crimeia a determinar o futuro da região sem pressões externas", afirma o comunicado, citado pela agência Itar-Tass.
A consulta foi marcada para 25 de Maio, o mesmo dia em que se vão realizar as eleições presidenciais antecipadas.
Desde sábado, dia em que o Presidente Vikor Ianukovich desapareceu e a oposição ucraniana tomou o poder , após três meses de protestos, que grupos que militam pelo retorno da Crimeia à Rússia terão começado a formar uma milícia para se defender das novas autoridades.
Quarta-feira, manifestantes anti-russos invadiram o parlamento regional depois de se ter espalhado o boato de que os deputados iam decidir declarar que a Crimeia se separaria do resto da Ucrânia. Seguiu-se uma batalha campal que envolveu milhares de pessoas de um de outro lado nas ruas do centro de Simferopol, a capital da região.
Esta manhã, dezenas de homens armados controlavam não só a sede do parlamento como a do governo regional da península russófona. Entraram durante a madrugada, içaram bandeiras russas e um cartaz onde se lê “Crimeia é Rússia”.
O primeiro-ministro regional, Anatoli Mohiliov, disse à AFP que os homens estão equipados com “armas modernas” e que impediram os funcionários de entrar nos edifícios. Mohiliov já falou ao telefone com o grupo, mas não lhe foram transmitidas quaisquer reivindicações.
O ministro interino do Interior, Arsen Avakov, anunciou ter posto a polícia em alerta para evitar “um banho de sangue entre a população civil”. “Os provocadores estão em marcha. É tempo para responder com cabeça fria”, escreveu Avakov na sua página de Facebook. Há forças de segurança em redor dos edifícios tomados.
Diplomacias ocidentais avisam Rússia
A ocupação dos edifícios do governo da Crimeia pode desencadear um conflito regional, avisa o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia. “Isto é um desenvolvimento drástico e aviso os que o fizeram e os que o permitiram, é assim que começam os conflitos regionais. Este é um jogo muito perigoso”, disse Radoslaw Sikorski numa conferência de imprensa.
Londres considera que as movimentações militares russas são prejudiciais "num momento em que todas as partes, sejam nacionais ou internacionais, deveriam trabalhar para desarmar as tensões". O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico acrescentou que "a instabilidade na Ucrânia não é do interesse de ninguém".
A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, também manifestou a sua preocupação. “O mais importante é evitar a divisão da Ucrânia”, disse, à chegada a uma reunião da NATO em Bruxelas onde se vai debater precisamente a situação ucraniana.
Em antecipação à reunião da aliança, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, apelou à Rússia "para não tomar qualquer acção que possa fazer escalar a tensão ou criar desentendimentos". "Estou preocupado com os desenvolvimentos na Crimeia", afirmou Rasmussen através do Twitter.