Hollande no Eliseu: um ano passou e não há razões para festejos

Apenas um quarto dos franceses tem uma opinião favorável sobre François Hollande. O Presidente francês promete que o segundo ano será o dos resultados.

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Para o próximo ano, François Hollande prometeu resultados JEAN-SEBASTIEN EVRARD/AFP

É dia de aniversário, mas não há razões para festejos, escreve o Le Monde. Nem para declarações ao país. Hollande reuniu-se com os seus ministros e cada um expôs o que fez e o que ficou por fazer. O Presidente exigiu-lhes e prometeu-lhes resultados, escreve a AFP. Na reunião no Eliseu, disse-lhes que o segundo ano de mandato será o dos resultados. Resultados que desafiem a espiral negativa das sondagens.

No seu conjunto, as opiniões favoráveis relativamente ao Presidente não ultrapassam os 29%, mas há uma sondagem que desce aos 24%. Num cenário imediato de eleições presidenciais, Hollande seria terceiro, ficando excluído de uma segunda volta entre Marine le Pen do partido populista de extrema-direita Frente Nacional, e Nicolas Sarkozy, primeiro mais votado, segundo uma sondagem CSA, citada pelo britânico Financial Times. Na resposta à crise, os estudos de opinião são particularmente desfavoráveis: apenas 18% dos inquiridos o consideram eficaz.

Será então a crise? A acção de Hollande? Ou o seu perfil pessoal? A questão impõe-se e é colocada na imprensa francesa. O director do instituto de sondagens TNS, Sofres Edouard Lecerf, responde ao semanário Nouvel Observateur. “A crise lança uma dúvida sobre a capacidade e a competência do Presidente”, diz este especialista, que nota porém que quase metade (45%) dos franceses não confiam em Hollande. “[As pessoas] constatam que as reformas estão lá e saúdam-nas, mas não vêem emergir um projecto global.” O especialista não denota um sentimento de agressividade contra o Presidente, mas de indiferença, o que é "igualmente perigoso", diz.

Uma questão de estatura
Falta, em muitas situações, “a palavra presidencial”, uma posição assumida vinda do Eliseu, escreve o semanário L’ Express. Esse silêncio, opção de um Presidente que bem cedo anunciou não pretender imiscuir-se em todos os dossiers, para “deixar os ministros existir”, notou-se especialmente quando o país revelou recentemente divisões profundas face à lei do casamento para todos. Só depois de aprovada a lei, no Parlamento e no Senado, Hollande pediu calma; já depois de o debate ter atingido níveis de violência verbal no Parlamento e física nas ruas.

A imagem que prevalece, no conjunto das sondagens e análises de especialistas, é a de um Presidente sem autoridade e linha de governação definida. Desde logo, há a questão de estatura, escreve o Le Monde num artigo sob o título “Pode ainda governar-se sendo tão impopular?”

Ao contrário do que aconteceu com Sarkozy, ao fim de um ano de mandato, o perfil não é posto em causa: Hollande é simpático para mais de metade dos inquiridos pela IFOP e honesto para 50%. Não se deixou contaminar pelo caso Cazuhac – do secretário de Estado do Orçamento Jérôme Cahuzac, que se demitiu em Março acusado de fraude fiscal. E impôs uma “agenda de transparência”, obrigando ministros e responsáveis em cargos eleitos a publicar o seu património, como forma de moralizar a vida pública.

Mas no capítulo dos atributos presidenciais os números são calamitosos, considera o Le Monde: apenas 27% dos inquiridos consideram Hollande competente, 18% capaz de unir os franceses, enquanto 20% acreditam que ele está ciente do caminho que escolheu. E apenas 14% consideram que Hollande tem autoridade.

Quando entrou há um ano no Palácio do Eliseu para o seu primeiro dia como Presidente, Hollande começava com um nível de popularidade abaixo do dos seus antecessores. Chegava com 55% de opiniões favoráveis, enquanto François Mitterrand começara o seu primeiro mandato com 74%, Jacques Chirac com 64%, a mesma percentagem para Nicolas Sarkozy no seu primeiro e único mandato. Hollande continuou a descer, embora algumas decisões, como a intervenção militar no Mali, lhe tenham dado algum alento.

Um balanço das promessas
Cumpriu a promessa de repor a idade da reforma nos 60 anos, mas renunciou à de reformar o estatuto penal de um Presidente, o que poria fim à imunidade presidencial. Suspendeu, sem desistir, a promessa da não acumulação de mandatos, mas cumpriu o compromisso de pôr fim à regra de não substituição de um em dois funcionários públicos. Como anunciado, retirou tropas francesas do Afeganistão. Cumpriu apenas em parte a promessa de impor uma taxa de 75% sobre os rendimentos acima de um milhão de euros, com um imposto de 66%. E avançou com o compromisso de tributar em 45% os rendimentos acima dos 150 mil euros.

Não reduziu o défice aos 3% do PIB em 2013, como prometera, nem renegociou o pacto orçamental europeu, mas destacou-se pela positiva ao mostrar reservas em Bruxelas e Berlim com a opção de limitar a política económica ao reequilíbrio das finanças públicas. A lista é longa. Das 60 promessas listadas na imprensa francesa desta segunda-feira, 28 foram total ou parcialmente cumpridas neste primeiro ano.

Mesmo assim, nunca um Presidente tinha descido tão baixo nas sondagens em apenas um ano. Talvez porque as suas acções sejam pouco visíveis. É uma questão de estilo ou personalidade? É conhecida a sua aversão ao conflito. Foi impopular por não ter ousado desagradar, dizem analistas.

O descontentamento dos franceses em relação ao Presidente ronda os 70% para a maioria dos estudos, mas chega aos 74% no caso da sondagem para a IFOP – os mesmos níveis de impopularidade foram atingidos por Jacques Chirac, mas só em 2006, quase no fim do segundo mandato, e por Nicolas Sarkozy em 2011, nos últimos meses no Eliseu. Para o Le Monde, o primeiro ano de Hollande resume-se em poucas linhas: “'O senhor 75%’”, que queria cobrar com essa taxa os contribuintes mais ricos, tornou-se o “senhor 75%” de impopularidade. O Financial Times chama-lhe o “Senhor Impopular”.
 
 
 
 

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