Haider al-Abadi, um político discreto e afável que é enviado para a frente de batalha
Deputado desde as primeiras eleições e vice-presidente do Parlamento, é dirigente do partido xiita Dawa, o mesmo do seu antecessor, Nouri al-Maliki. Não convence a todos. “Nunca foi um grande partidário de reformas e pouco o distinguia de Maliki”, observa Kirk Sowell, especialista da política iraquiana. Agora é chamado para fazer o contrário de Maliki: unir xiitas, sunitas e curdos para enfrentar a ameaça dos jihadistas do Estado Islâmico (EI).
Terá as qualidades certas? Afável e sem sombra de carisma, tem mais um perfil de gestor “do que de líder de um país que enfrenta a pior crise política e de segurança desde a invasão americana de 2003”, comenta Borzou Daragahi, correspondente do Financial Times.
Ao contrário, as suas qualidades são muito importantes, declara ao Washington Post o investigador norueguês Reider Visser, outro especialista no Iraque. Vem do mesmo partido que Maliki mas tem muito mais capacidade para obter um largo apoio, designadamente entre sunitas e curdos. Há outro factor. A elite considera-o “um dos seus”, graças às origens familiares. “Estas coisas contam muito no tradicionalista establishment iraquiano.”
De Bagdad a Bagdad
Nasceu em Bagdad em 1952, filho de um médico que foi director de hospitais e ministro da Saúde antes da era do Baas e de Saddam. Aderiu ao partido Dawa aos 15 anos. No fim da década 70, a família entrou em conflito com o regime de Saddam Hussein. O pai parte para Londres. Abadi, que acabara o curso de engenharia electrónica em Bagdad, fará o doutoramento em Manchester. No exílio, torna-se um activo propagandista anti-Saddam. Em 1982, o regime executa dois dos seus irmãos por militarem no Dawa. Entretanto, Abadi passa por Beirute a trabalhar para o partido.
Volta a Bagdad em 2003. É conselheiro de Maliki no primeiro governo interino. Ocupa depois a pasta das Comunicações. No Parlamento, presidiu à comissão de economia e reconstrução e, depois, à das finanças. Tem boas relações em Washington. Em 2013, tomou parte nas tempestuosas negociações do petróleo com o governo regional curdo. No ano passado, falou-se no seu nome como um dos possíveis sucessores de Maliki. Mas este insistiu em cumprir um terceiro mandato.
A irrupção dos jihadistas do Estado Islâmico e a queda de Mossul (10 de Junho) subverteram o quadro político do Iraque já ameaçado de desagregação. Abadi deu uma entrevista ao Huffington Post (30 de Junho) exigindo bombardeamentos americanos. Argumentava que a ofensiva do IE era “uma catástrofe” para todo o Médio Oriente e para o Ocidente. Fez uma pressão pouco diplomática: “Estamos à espera do apoio americano. Se [houver] ataques aéreos dos EUA, não precisamos de ataques aéreos iranianos. Caso contrário, podemos vir a precisar de raides iranianos.”
O iraquiano Feisal Amin Rasoul Istrabadi, antigo embaixador na ONU, não inveja “a assustadora tarefa” de Abadi. “A questão põe-se assim: poderá ele unir os políticos do Iraque com políticas de abertura e reconciliação e [ao mesmo tempo] combater a insurreição do ISIS [ou EI] que é uma ameaça comum para todos os iraquianos? Qualquer destas duas coisas seria suficientemente difícil sob melhores circunstâncias. Fazer as duas ao mesmo tempo e nas circunstâncias em que o Iraque se encontra é uma tarefa assustadora.”
Lembre-se a frase que o curdo Fuad Masum lhe dirigiu quanto o nomeou: “Agora o Iraque está nas suas mãos.”