Há 30 milhões de escravos no mundo

Primeiro estudo realizado à escala global revela que metade das pessoas em situação extrema de exploração vivem na Índia. Mauritânia é o país com maior fatia da população escravizada.

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Crianças indianas trabalham numa mina ao ar livre Roberto Schmidt/AFP

Os dados constam do Índice Global de Escravidão, o primeiro estudo a nível mundial sobre um fenómeno que “muitas pessoas ficam surpreendidas por ainda existir”, mas que “continua a ser um estigma em todos os continentes”, explicou à AFP Nick Grono, director-geral da Walk Free, organização criada na Austrália para denunciar a prevalência da escravatura, mais de um século depois de ter sido abolida. “As leis já existem, mas faltam os meios, os recursos e a vontade política”, diz Grono, esperando que este trabalho sirva como um alerta.

O índice, admite o responsável, é o resultado de um exercício difícil, quer porque se trata de “um crime escondido” – “é quase como tentar medir a violência conjugal ou o tráfico de drogas”, diz –, quer porque a escravatura moderna é mais complexa do que o comércio de seres humanos durante o período colonial. Abrange situações “em que as pessoas estão reféns da violência, são obrigadas a aceitar um emprego, mas também outras situações em que são economicamente exploradas, em que não são pagas ou recebem o mínimo para sobreviver e não são livres de partir”. As vítimas de tráfico humano, as mulheres forçadas a casar ou as crianças exploradas em situações de guerra entram também nesta definição.

É dessa soma que a Ásia surge como o continente onde há mais pessoas escravizadas – quase dois terços do total contabilizado a nível mundial. Só na Índia são perto de 14 milhões de pessoas, mas as estimativas apontam também para 2,9 milhões de seres humanos escravizados na China e mais de dois milhões no Paquistão.

Na Índia, há milhares que já nascem escravos, presos pelo sistema de castas que embora ilegal se mantém enraizado, ou forçados a trabalhar a vida inteira para pagar dívidas, muitas vezes contraídas por antepassados. No fabrico de tijolos, na construção ou nas minas a céu aberto este “vínculo para a vida” arrasta famílias inteiras e rouba milhões de crianças à escola. O flagelo estende-se também ao lar, com jovens forçadas pelos pais a casar e depois escravizadas pelos maridos e as suas famílias, ou de crianças obrigadas desde muito pequenas a mendigar ou a prostituir-se.

Mais de dois terços das pessoas exploradas em todo o mundo vivem em dez países (22 dos 29,3 milhões), mas o índice é liderado por um pequeno país, que não constam sequer desta lista: na Mauritânia quatro por cento da população vive escravizada, incluindo milhares de crianças que nasceram a ser vistos como propriedade de alguém. O segundo lugar é ocupado pelo Haiti, onde centenas de milhares de crianças de aldeias pobres são enviadas para trabalhar em casas na cidade, ficando muitas vezes sujeitas a todo o tipo de abusos.

Portugal surge neste índice a par da Espanha, no 147º lugar entre 162 países, calculando-se que haja entre 1300 a 1400 pessoas forçadas a trabalhar em situações de exploração. A Islândia surge como o mais bem cotado de todos os países da lista, com menos de cem pessoas em situação de escravatura, seguida da Irlanda e Reino Unido.

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