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Governo britânico pressionou jornal para destruir documentos de Snowden

Diário que revelou caso polémico sobre Agência Nacional de Segurança dos EUA destruiu material após ameaça de uma acção judicial.

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O companheiro de Greenwald foi detido com base na lei antiterrorismo Ricardo Moraes/Reuters

Num artigo publicado no site do Guardian na segunda-feira à noite, Rusbridger conta que há cerca de dois meses, quando o jornal começou a publicar as primeiras de várias notícias feitas com base em informações disponibilizadas pelo norte-americano Edward Snowden, foi abordado para que os documentos fossem devolvidos ou destruídos.

Um mês depois, recebeu um telefonema de um responsável do governo britânico, que não identifica. “Já se divertiu. Agora queremos as coisas de volta”, foi-lhe dito em tom de aviso pelo mesmo homem, que insistiu na entrega ou destruição dos documentos de Snowden. O director do Guardian disse que assim se tornaria impossível prosseguir com o trabalho jornalístico que tinha sido iniciado. “Não há necessidade de escrever mais”, foi a resposta que recebeu. Mais, foi confirmado a Rusbridger que se não colaborasse o jornal iria ser alvo de uma acção judicial.

“E assim aconteceu um dos momentos mais bizarros na longa história do Guardian, com dois especialistas em segurança dos serviços de comunicação do governo a supervisionar a destruição dos discos rígidos na cave do Guardian, para garantirem que nada ficava entre os pedaços de metal que pudesse vir a ter qualquer interesse para agentes chineses”, continua com ironia o jornalista.

Apesar da cedência e entrega dos documentos, o director do jornal garante que o trabalho de investigação do Guardian vai continuar mas não a partir de Londres. “A apreensão do computador de Miranda, telemóveis, discos rígidos e câmara também não terá qualquer efeito no trabalho de Greenwald”, garantiu.

O director do Guardian referia-se a David Miranda, um cidadão brasileiro de 28 anos que vive em união de facto com Glenn Greenwald, o jornalista que assinou as notícias sobre os programas de espionagem, e que na segunda-feira foi detido e interrogado no aeroporto de Heathrow, ao abrigo da lei antiterrorismo. Miranda foi detido quando estava em trânsito de Berlim para o Rio de Janeiro, onde vive com Greenwald. No aeroporto londrino a polícia deteve-o durante o máximo tempo permitido pela lei antiterrorismo – nove horas.

Miranda disse ter sido ameaçado de que se não colaborasse ficaria detido. “Ameaçaram-me como se fosse um criminoso ou alguém que se preparava para atacar o Reino Unido”, contou o companheiro de Greenwald, citado pelo Guardian.

“É óbvia a razão por que me detiveram. É por ser o companheiro de Glenn. Porque fui a Berlim. Porque Laura vive lá. Por isso pensam que pode haver uma relação”, acrescentou o brasileiro, que nega ter qualquer papel no caso. A mulher em causa é a realizadora norte-americana Laura Poitras, que também tem trabalhado com Greenwald e o Guardian no caso da NSA.

Num comunicado revelado hoje, o serviço de comunicação da polícia metropolitana (MPS) londrina afirma que a detenção de Miranda foi “legal e processualmente” correcta. Segundo a nota, a interpelação do brasileiro foi “necessária e proporcionada” e foi oferecida representação legal ao companheiro de Greenwald. “Nenhuma queixa foi recebida pelo MPS até ao momento”, acrescenta.

A detenção de Miranda levou o presidente do comité de Assuntos Internos do parlamento britânico, Keith Vaz, a anunciar a abertura de um inquérito parlamentar para apurar as razões que justificaram essa medida e quais as autoridades nacionais e estrangeiras envolvidas no processo.

A Casa Branca confirmou ontem que foi previamente notificada pelas autoridades britânicas da detenção de David Miranda, mas segundo o porta-voz, Josh Earnest, a Administração não solicitou essa medida nem esteve envolvida nessa decisão. O mesmo responsável escusou-se porém a esclarecer se os Estados Unidos iriam ter acesso ao conteúdo do material electrónico e informático confiscado pela polícia britânica ao brasileiro.
 
 
 
 

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