Grécia vai avançar com pedido de reparações de guerra à Alemanha

Ministro grego dos Negócios Estrangeiros não disse que quantia irá ser pedida nem em que instância entrará o processo.

Foto
O MNE grego Avramopoulos disse que a Grécia nunca tinha desistido de procurar indemnizações Thierry Charlier/AFP

Especulava-se que Atenas pudesse tomar este passo desde que o diário grego To Vima noticiou a existência de um relatório secreto do Ministério das Finanças detalhando danos e calculando reparações – tanto por perdas materiais como por um empréstimo forçado do Banco Central grego às forças de ocupação.

Mas responsáveis admitiam que a decisão seria política, já que não era a melhor altura para irritar Berlim, que é quem mais contribui para os empréstimos aos países em dificuldade. 

O ministro Avramopoulos sublinhou que a Grécia nunca tinha desistido das indemnizações e pediu “a restauração da justiça e verdade sobre o sofrimento do povo grego durante os anos difíceis da ocupação, um período durante o qual o povo grego sofreu, passou fome, e foi pilhado como nenhum outro”, cita o diário norte-americano Wall Street Journal. Não especificou como será feito o pedido nem a quantia.

Na última vez que esta questão surgiu, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, disse que o caso estava fechado e aconselhou a Grécia a focar-se nas reformas e não desviar as atenções. O seu homólogo grego ripostou que uma questão é independente da outra.<_o3a_p>

162 mil milhões em jogo?
O ministro dos Negócios Estrangeiros diz que vai agora ser estudado o modo como apresentar este pedido de reparações. Segundo o documento citado no início de Abril pelo To Vima, tratar-se-ia de 108 mil milhões de euros por danos de infra-estrutura e 54 mil milhões resultantes dos empréstimos forçados da Grécia à Alemanha. Ou seja, 162 mil milhões de euros, cerca de 80% do PIB grego.

A Alemanha pagou já, em 1960, 115 milhões de marcos (equivalente a 57,8 milhões de euros) à Grécia, diz a Deutsche Welle – e do ponto de vista de Berlim, a questão ficou aí encerrada. O jornal alemão Die Welt dizia, pelo seu lado, que desde 1949 a Alemanha pagou já pelo menos o equivalente a 31 mil milhões de euros, sublinhando, no entanto, que é difícil ter uma quantia exacta, já que houve várias formas de pagamentos.

Há quem ache que o pedido grego – pelo menos uma parte – é justificado. Quem melhor para o defender do que um professor alemão da Universidade de Atenas? O historiador Hagen Fleischer duvida da validade do argumento de que todas as reparações foram pagas em 1960. Primeiro, lembra que “a Holanda, que sofreu muito menos perdas, teve uma indemnização maior”, cita a Deutsche Welle. E segundo, Fleischer nota que o empréstimo ainda começou a ser pago logo depois da guerra. Os próprios nazis reconheceram o empréstimo, o que seria uma vantagem.

O mais recente caso de reparações individuais acabou, no entanto, com uma derrota para a Grécia. Trata-se de um pedido relacionado com um ataque a uma localidade chamada Distomo, que matou 218 pessoas. Em 1997, um tribunal grego declarou que os familiares das vítimas tinham direito a uma indemnização de cerca de 37,5 milhões de euros. Mas em 2011, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos decidiu que não havia lugar a reparações.

Notícia corrigida 25/4 às 12h10, no subtítulo o valor estava errado, é 162 mil milhões como se dizia à frente no texto

Sugerir correcção
Comentar