Governo dos EUA pede pena máxima para Bradley Manning, por "ajuda ao inimigo"
A pena capital não é um cenário, mas o soldado de 25 anos que foi fonte do Wikileaks pode passar o resto da vida na prisão
Manning ajudou “o inimigo” ao “despejar” milhares de documentos com segredos de Estado na Internet, argumentou esta segunda-feira um dos procuradores do caso, no início do julgamento, em Fort Meade, uma base militar a 50 quilómetros de Washington.
Joe Morrow, um capitão do exército que faz parte da equipa de procuradores que representa o Governo, disse que Osama bin Laden terá solicitado e obtido informações contidas nos documentos revelados pela Wikileaks em 2010. Sugeriu que Manning foi motivado por desejo de notoriedade, segundo o Guardian.
Segundo o Código de Justiça Militar, “ajudar o inimigo” é um crime que punível com a morte. O Governo não pedirá a pena capital, mas Manning pode ser condenado a prisão perpétua, sem poder obter liberdade condicional.
Em audiências preliminares, Manning declarou-se culpado de ter fornecido documentos classificados ao Wikileaks entre Novembro de 2009 e Maio de 2010, quando trabalhava como analista de informação secreta numa base americana no Iraque. Essa confissão, só por si, poderia ter resultado numa sentença de 20 anos de prisão. Mas os procuradores não abandonaram as acusações mais graves, incluindo a violação da Lei de Espionagem, criada em 1917 para julgar espiões e traidores. Ao todo, Manning enfrenta 21 acusações.
O julgamento começou nesta segunda-feira, três anos após Manning ter sido detido no Iraque, em Maio de 2010, e espera-se que dure pelo menos 12 semanas.
Os milhares de documentos enviados por Manning à Wikileaks incluem um vídeo filmado em Julho de 2007 que mostra o ataque de um helicóptero militar americano em Badgad que causou vítimas civis, incluindo dois jornalistas da Reuters; relatórios de guerra do Iraque e Afeganistão; e 250 mil telegramas de embaixadas americanas em todo o mundo.
Em Fevereiro, nas audiências preliminares, Manning disse que foi motivado pelo desejo de expor “a sanguinolência” do exército americano e o seu desprezo pela vida humana. Explicou que queria lançar um debate sobre a presença militar e a política externa americanas.
Os procuradores planeiam chamar 150 testemunhas para depor, 24 das quais em sessões fechadas, sem jornalistas ou público, para prevenir “o derrame de informação classificada”, segundo a juíza que preside ao julgamento, a coronel Denise Lind.
Uma das testemunhas é um Navy Seal que participou no raide em que Bin Laden foi morto e que deverá falar do material apreendido no complexo onde o líder da Al-Qaeda se escondia. Deporá de um local secreto, com um disfarce para não ser identificado.