Governo de unidade nacional palestiniano põe fim a sete anos de cisão
Executivo, liderado por Rami Hamdallah e composto por independentes, tem o apoio da Fatah e do Hamas.
“Hoje selamos o fim da divisão que causou um dano catastrófico à causa palestiniana”, declarou Mahmoud Abbas, líder da Fatah e presidente da Autoridade Palestiniana, após dar posse ao novo Governo, numa breve cerimónia em Ramallah, na Cisjordânia.
O Hamas, facção islamista que controla Gaza desde o Verão de 2007, celebrou também o nascimento de um Governo que “representa todos os palestinianos”. Cumprindo o acordado, Ismail Haniyeh e os seus ministros demitiram-se, entregando o poder no território ao novo executivo. Este é “o Governo de um só povo e de um só sistema político”, afirmou Haniyeh, num discurso transmitido pela televisão do Hamas.
Encabeçado por Rami Hamdallah, um professor universitário que chefiava até agora o Governo da Autoridade Palestiniana, o executivo integra 16 ministros, cinco dos quais oriundos da Faixa de Gaza. São tecnocratas e personalidades independentes, mas os seus nomes passaram o crivo das duas principais facções palestinianas que, em Abril, selaram um acordo de reconciliação, depois de dois entendimentos anteriores não terem saído do papel.
A tomada de posse chegou a estar em risco, depois de o Hamas ter anunciado que não aceitaria que o novo executivo, ao contrário do que vem sendo habitual, não incluísse um ministro para os prisioneiros, responsável pelas negociações para a libertação dos palestinianos detidos em Israel. Mas o movimento acabou por dar o seu aval depois de obter garantias de que a pasta ficará sob a tutela de Hamdallah.
Num sinal dos muitos obstáculos que o novo Governo palestiniano tem pela frente, três novos ministros que residem em Gaza faltaram à cerimónia, por não terem recebido autorização de Israel para se deslocar até à Cisjordânia, que permanece sob ocupação.
Outro desafio imediato será garantir a unificação de todas as forças palestinianas sob o mesmo comando: o acordo prevê o envio de agentes da Autoridade Palestiniana para Gaza, mas não prevê o desmantelamento dos quase 50 mil milicianos sob controlo do Hamas que, em Junho de 2007, expulsaram os homens da Fatah, num conflito sangrento que separou de facto os dois territórios.
O primeiro-ministro israelita, que suspendeu as negociações com a Autoridade Palestiniana na sequência do acordo de reconciliação, pediu no domingo aos países aliados que não reconheçam legitimidade a um Governo que, diz, servirá de fachada para o Hamas e para o “fortalecimento do terrorismo”. Classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia pela sua recusa em renunciar à violência e reconhecer o Estado de Israel, o movimento opõe-se às negociações de paz. Abbas assegura, no entanto, que o novo Governo reconhece e vai respeitar os acordos assinados pela Organização para a Libertação da Palestina.
Israel anunciou um boicote ao novo Governo e admite congelar a transferência dos impostos que cobra na Cisjordânia, agravando a asfixia financeira à Autoridade Palestiniana. Vários ministros vieram, no entanto, defender moderação na resposta, afirmando que é preciso esperar para ver qual será a actuação do novo executivo antes de adoptar medidas mais drásticas. “Este não é um tempo para fulminar, mas antes para sobriedade e cautela”, disse à Reuters Yair Lapid, ministro das Finanças e líder do partido centrista Yesh Atid.