Gérard Depardieu recebe cidadania russa em apenas duas semanas

Actor fixou residência na Bélgica para escapar à subida de impostos em França, mas agora Putin ofereceu-lhe um passaporte.

Foto
Depardieu foi Rasputin no filme de 2011 do realizador Josée Dayan DR

"Conforme o Artigo 89(a) da Constituição da  Federação Russa, o Presidente deu instruções para aprovar o pedido de cidadania de Gérard Xavier Depardieu, nascido em 1948 em França", lê-se num curto comunicado publicado nesta quinta-feira no site do Kremlin.

Depois de o actor ter manifestado a intenção de escapar à taxa de 75% sobre o rendimento dos mais ricos proposta pelo Governo de François Hollande – mas entretanto chumbada pelo Tribunal Constitucional do país –, o Presidente russo estendeu a mão ao actor francês: "Tenho  a certeza de que as autoridades francesas não quiseram ofender o sr. Depardieu. Mas se ele quiser ter um passaporte russo, é como se já o tivesse", disse Putin na sua conferência de imprensa anual, que decorreu em Moscovo no dia 20 de Dezembro.

Para além de ser considerado um amigo de Vladimir Putin – que descreve o actor com um homem de negócios bem-sucedido –, Depardieu dá a cara em anúncios publicitários ao banco Sovietski e tem ajudado a angariar fundos para um hospital pediátrico de São Petersburgo.

A mudança de residência de Depardieu para a Bélgica caiu mal em França. Há quem tenha lamentado a decisão e pedido a harmonização dos impostos a nível europeu – a taxa criada pelo Presidente François Hollande, anunciada durante a campanha eleitoral, foi também criticada pela direita francesa como uma medida simbólica que gerará pouco encaixe. Com a fuga dos mais ricos, esta crítica subiu de tom.

À esquerda, é Depardieu quem ficou debaixo de fogo. "Dá vergonha", disse então Nathalie Artaud, da organização Luta Operária. "O pobrezinho tem vinhas, hotéis e fica incomodado por pagar um pouco de impostos", acrescentou.

Para além de cobrar cerca de dois milhões de euros de cachet por filme, Depardieu tem vários negócios e propriedades, uma vinha e um palacete no Vale do Loire, participações em várias adegas em França e noutros cinco países, três restaurantes em Paris, uma peixaria e uma produtora.

Tribunal Constitucional chumbou taxa sobre os mais ricos
No final de Dezembro, o Tribunal Constitucional francês chumbou a criação de um imposto de 75% sobre os rendimentos superiores a um milhão de euros. O "imposto sobre os milionários", que deveria entrar em vigor no dia 1 de Janeiro, foi uma das bandeiras da campanha presidencial de Hollande, que prometeu já voltar a apresentar a proposta.

Num acórdão conhecido na manhã de sábado passado, a instância considera que a nova taxa viola "o princípio da igualdade perante os encargos públicos", citou a AFP. Isto porque o novo imposto sobre fortunas (ISF) "visa os rendimentos de cada pessoa física", enquanto o IRS a que estão sujeitos todos os cidadãos "é calculado com base no agregado familiar", sustenta. Isto levaria a que, por exemplo, uma família em que um dos membros ganhe mais de um milhão de euros teria de pagar o imposto, enquanto que um agregado em que cada um dos membros do casal ganhe 900 mil euros ficaria isento. O tribunal contesta ainda as novas modalidades de cálculo do imposto, em particular a integração de receitas de capital de que "o contribuinte ainda não beneficiou".
 
 

Sugerir correcção
Comentar