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Genebra terminou sem resultados mas Brahimi diz que há bases para avançar

Representantes do Governo e da oposição trocam acusações no final das negociações. Nova ronda prevista para 10 de Fevereiro

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Alepo voltou a ser bombardeada esta sexta-feira Saad AboBrahim/Reuters

A reunião de Genebra – que foi antecedida, no dia 22, pela conferência internacional em Montreux – foi apresentada apenas como um primeiro passo numa caminhada que pode demorar anos. A segunda etapa tem já data marcada, a 10 de Fevereiro, mas Brahimi disse que só a Coligação Nacional Síria confirmou a sua presença. A delegação do governo “não me disse que não estava a pensar vir, mas disse que primeiro precisava de consultar a capital”, explicou o enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe na conferência de imprensa final.

Mas com a Rússia, principal apoiante de Damasco, apostada em manter vivas as negociações é improvável que o Presidente Bashar al-Assad recuse enviar de novo os seus representantes a Genebra. E o facto de nenhuma das partes ter fechado a porta ao diálogo é vista, só por si, como uma vitória para os mediadores. Só que isso não basta para estreitar o fosso que separa governo e oposição, que no final da reunião retomaram a retórica com que chegaram ao encontro.

Walid Mouallem, o ministro dos Negócios Estrangeiros que chefiou a delegação a Genebra mas não participou nas reuniões, denunciou a “falta de responsabilidade e seriedade” da oposição e disse que a conferência “não produziu resultados tangíveis” porque os representantes dos rebeldes estiveram permanentemente a “ameaçar implodir” as negociações. E o ministro da Informação sírio, que ficou conhecido em Genebra pelas suas frases lapidares, garantiu que o regime “não fará nenhuma concessão” por mais reuniões que se realizem. “Eles não vão conseguir no terreno político o que não conseguiram pela força”, disse Omran al-Zohbi.

Ahmad Jarba, o chefe da Coligação, retribui ao governo a acusação de “falta de empenho sério” nas negociações e garantiu que a rebelião não baixará as armas “enquanto o regime continuar a matar o povo com aviões e barris explosivos”.

“Foi um início muito modesto, mas um início sobre o qual podemos começar a construir” um diálogo, disse Brahimi, que aos 80 anos é conhecido pela paciência e pragmatismo. O diplomata argelino lamentou não ter conseguido ainda assegurar o envio de ajuda às populações cercadas – incluindo em Homs, onde um acordo para a saída das mulheres e crianças da cidade velha, sitiada há quase 600 dias, está por cumprir. Mas Brahimi lembra que “as duas partes não tinham o hábito de se sentar à mesma mesa” e que, para lá da retórica, verificou que “há mais pontos em comum entre eles do que eles próprios reconhecem”. Ambos “acreditam que o futuro da Síria pode apenas ser decidido pelo seu povo” e reconhecem “que a situação humanitária em que se encontra a população deve ter uma solução rápida”, resumiu.

Entre as situações mais urgentes está Yarmuk, o campo de refugiados palestinianos em Damasco cercado desde Junho pelo Exército sírio e onde já 87 pessoas morreram à fome ou por falta de medicamentos. Sexta-feira, a ONU conseguiu fazer entrar no campo um segundo carregamento de ajuda, mas as rações de comida entregues nos últimos dois dias chegam apenas para metade das 18 mil pessoas que ali permanecem.

E para lembrar ao mundo que a guerra não parou e que cada dia perdido é mais um dia de sangue, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos revelou que desde dia 22 foram mortas 1870 pessoas na Síria. Destas 498 era civis e “40 morreram à fome ou por falta de medicamentos”.

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