Pouco passava das 19h30 (hora local) quando um dos atacantes se fez explodir à porta do restaurante, abrindo caminho à entrada de dois outros homens, que dispararam indiscriminadamente contra as dezenas de pessoas que enchiam o Taverna. Seguiram-se duas horas de trocas de tiros com a polícia afegã, até que os dois atacantes foram mortos. Para trás ficavam os corpos de 21 pessoas – 13 estrangeiros e oito afegãos –, entre eles três funcionários das Nações Unidas e o representante máximo do Fundo Monetário Internacional no Afeganistão.

A autoria do ataque foi prontamente reivindicada pelos taliban, que o justificaram como uma resposta a um bombardeamento aéreo da coligação liderada pelos EUA, a meio da semana passada, a Norte de Cabul.

"Este ataque foi uma retaliação ao massacre realizado pelas forças invasoras no distrito de Siyah Gerd, na província de Parwan, onde os ataques aéreos inimigos destruíram pelo menos dez casas, vários pomares e mataram pelo menos 30 civis inocentes, a maioria mulheres e crianças indefesas", lê-se num comunicado da liderança taliban.

Num email enviado à agência Reuters, o porta-voz Zabihullah Mujahid disse que o Taverna du Liban era "frequentado por estrangeiros com cargos importantes", um local "onde os invasores costumavam jantar e beber álcool em abundância".

Abertura de inquérito
O Presidente afegão, Hamid Karzai, lamentou as mortes no restaurante e anunciou a abertura de um inquérito, mas lembrou os bombardeamentos da coligação na semana passada, numa condenação à morte de civis de todas as nacionalidades.

"A guerra contra o terrorismo só dará frutos quando houver uma distinção entre vítimas e terroristas e quando os terroristas forem combatidos. Se a NATO, liderada pelos Estados Unidos, quiser ser uma aliada do povo afegão, deve ter como alvo o terrorismo", declarou Karzai.

Apesar de não se poder comparar em termos de segurança às instalações de organizações como a NATO ou às embaixadas estrangeiras na capital afegã, o restaurante Taverna du Liban era um dos poucos da cidade reconhecidos pelas agências internacionais. É também pouco comum que os taliban definam alvos exclusivamente civis, o que torna o ataque de sexta-feira num dos mais mortíferos para os cidadãos ocidentais desde a invasão do país, em 2001.

Entre os mortos estão dois norte-americanos, que trabalhavam na Universidade Americana do Afeganistão; dois britânicos, um deles Del Singh, candidato do Partido Trabalhista nas próximas eleições para o Parlamento Europeu; uma pessoa com dupla nacionalidade somali e norte-americana; dois canadianos; dois libaneses; um dinamarquês; um russo; um malaio; e um paquistanês.

Um dos libaneses, Wabel Abdallah, era o representante máximo do Fundo Monetário Internacional no Afeganistão e o russo, Vadim Nazarov, era o responsável das Nações Unidas pelo diálogo com as autoridades afegãs e com os taliban.

Os que conseguiram escapar com vida ao ataque refugiaram-se na cozinha e subiram depois para o telhado, onde aguardaram pela intervenção da polícia. "Estava na cozinha quando ouvi uma explosão lá fora. Fugimos todos para o telhado e eu fiquei lá em cima encostado à chaminé durante duas ou três horas", contou à agência Reuters um dos cozinheiros, identificado apenas como Suleiman.