Fractura entre ricos e pobres provoca fracasso em Copenhaga
No final, o que emergiu foi um acordo voluntário, subscrito por algumas nações, em vez de um novo tratado contra o aquecimento global legalmente vinculativo e adoptado por todos os países da ONU.
A cimeira adoptou uma decisão na qual "toma nota" do Acordo de Copenhaga, o texto negociado na sexta-feira pelos Estados Unidos e por um grupo de grandes nações emergentes - a China, a Índia, o Brasil e a África do Sul -, contendo as bases para um novo passo na luta contra o aquecimento global. Segundo o acordo, os países que o adoptarem prometem fazer mais para combater as alterações climáticas, mas sem qualquer compromisso legal.
"É uma forma de [os países] reconhecerem que algo existe, mas não a ponto de dizerem que se tornam parte [do acordo]", explicou Yvo de Boer, secretário executivo da ONU para as alterações climáticas.
Um grupo representativo de 28 dos 119 líderes mundiais presentes tinha discutido os termos do acordo, uma tentativa de última hora para salvar a cimeira, bloqueada por diferendos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Mas, no final, foi elaborado pelas grandes economias.
O resultado foi que vários países em desenvolvimento contestaram o processo que deu origem ao acordo, que dizem ter sido uma imposição de cima, contrariando o processo negocial da ONU, que prevê decisões por unanimidade.
O ambiente tinha já sido inquinado no início da conferência, quando se soube de um documento preparado pela organização dinamarquesa, que sugeria que as maiores economias estavam a tentar contornar o protocolo de Quioto, que prevê protecções para os pequenos países. A partir daí, os pequenos Estados e os países africanos ficaram de pé atrás. A Dinamarca acusou os países mais pobres de estarem a dificultar as negociações.
Lista de promessasO Acordo de Copenhaga prevê a constituição, até Fevereiro de 2010, de uma lista de promessas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento para reduzir o crescimento das suas emissões de dióxido de carbono. E aponta um mecanismo para o reporte e verificação dos esforços dos países em desenvolvimento. Cria ainda o Fundo Climático de Copenhaga, com 30 mil milhões de dólares (21 mil milhões de euros) para os países pobres nos próximos três anos. E promete mais 100 mil milhões de dólares (70 mil milhões de euros) anuais a partir de 2020.
O Sudão e Tuvalu argumentaram, no entanto, que se tratava de uma forma de "comprar" a adesão dos países mais vulneráveis com a oferta de dinheiro a curto prazo.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse estar consciente de que o Acordo de Copenhaga é "apenas um começo", mas que "é um passo na direcção certa". "Temos de transformá-lo num acordo legalmente vinculativo", afirmou. Ainda assim, declarou: "Finalmente, selamos o acordo".
Yvo de Boer também saudou como positivo o resultado da conferência, embora salientando que não foi tão longe quanto se desejava. Reconheceu que não era o que se esperava quando, há dois anos, a comunidade internacional lançou, na conferência de Bali, as negociações para um novo tratado climático. "Esperava que chegaríamos aqui com um acordo legalmente vinculativo", disse de Boer. Há três meses, a ambição foi reduzida para um acordo politicamente vinculativo. Mas também isto não foi conseguido.
As negociações para este eventual tratado prosseguirão com uma nova ronda em Bona, Alemanha, em Junho, e a próxima conferência climática na Cidade do México, no final de 2010.