Felipe González já está na Venezuela para defender os presos políticos

O antigo chefe do Governo de Espanha foi recebido no aeroporto “com aplausos”, mas o regime de Maduro vê a sua visita como uma “indecência política”.

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Felipe González à chegada, com Antonieta Mendoza (esquerda), mãe de Leopoldo Lopez, e Mitzy de Ledezma, mulher do autarca de Caracas Antonio Ledezma Marco Bello/REUTERS

O regime hoje liderado pelo Presidente Nicolás Maduro acusa González de “intervencionismo”, mas ele não é o único líder político que vai tentar intervir directamente: o senador e ex-candidato às eleições presidenciais brasileiras Aécio Neves encabeça uma delegação da câmara alta do Parlamento de Brasília que se deslocará a Caracas a 17 de Junho, para verificar a situação dos presos na Venezuela, anunciou a imprensa brasileira. “Vamos suprir a omissão vergonhosa do Governo da Presidente Dilma diante da escalada autoritária na Venezuela”, comentou.

A próxima audiência do julgamento de Leopoldo López, líder do Partido Vontade Popular, preso desde Fevereiro de 2014 e em greve de fome desde 24 de Maio, está marcada  para quarta-feira.

Além de querer assistir à audiência, enquanto “assessor jurídico externo” da defesa, González pretende ainda ouvir e aconselhar os familiares dos opositores e visitar Ledezma, López e Daniel Ceballos, antigo autarca de San Cristóbal, também em greve de fome, todos presos por envolvimentos nos protestos de Fevereiro de 2014.

"A Venezuela precisa de diálogo”, partilhou Felipe González, citado pelo diário argentino La Nación, após um encontro com os familiares dos presos. O antigo dirigente político espanhol acrescentou ainda que considera “positivo o compromisso” de Maduro para a realização de eleições este ano.

Mas a falta de uma data oficial para as eleições é um dos principais motivos pelos quais López e Ceballos estão em greve de fome. A oposição a Maduro suspeita que o Presidente queira suspender as eleições.

Juan Manuel Santos, Presidente da Colômbia, recebeu o ex-presidente espanhol em Bogotá, na quinta-feira, e declarou-lhe o seu apoio.

Quem promete dificultar a visita de González ao país é o Governo venezuelano. A sua chegada a Caracas foi muito criticada pelo regime "chavista", que já tinha anunciado que o ex-governante espanhol estava a “ingerir-se nos assuntos internos” da Venezuela. “Aqui não se joga aos índios e aos conquistadores”, afirmou um governador venezuelano, Tareck El Aissami, citado pelo El País.

Também o Presidente Nicólas Maduro deixou um conjunto de "recados" no Twitter, criticando a actuação política de González, aquando da sua governação em Espanha, entre 1982 e 1996, rotulando a sua visita de González como uma “imoralidade” e uma “indecência política”.

Mas entretanto, cancelou uma visita que tinha agendada ao Vaticano e um encontro com o Papa Francisco, gravando um vídeo, transmitido pela televisão do Estado, em que dizia ter uma gripe e uma otite e por isso ter sido “proibido de viajar pelos médicos”.

Fontes da oposição e do Vaticano vêem, no entanto, este cancelamento como uma forma de evitar ouvir uma reprimenda do Papa, diz o El País. Aliás, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, conhece bem a situação no país, pois foi núncio na Venezuela. “Nem um gesto de distensão, nem a libertação de um preso, nem sequer a possibilidade de mediação externa; nunca pensámos que, enquanto Cuba e os EUA se aproximavam, a situação da Venezuela se complicasse”, disse fonte do Vaticano ao diário espanhol.
 

Texto editado por Clara Barata

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