Ex-líder da France Telecom investigado por assédio psicológico

Outros dois executivos séniores da segunda maior empresa de telecomunicações do mundo, Louis-Pierre Wenes e Olivier Barberot, deverão hoje testemunhar em tribunal sobre o ambiente vivido na France Telecom durante o período de reformas estruturais que originou uma onda de mal-estar na empresa e desembocou numa vaga de suicídios.

Didier Lombard, que saiu em liberdade condicional após o pagamento de uma fiança no valor de 100 mil euros, demitiu-se da direcção executiva da empresa em 2010.

Durante os seus cinco anos de condução dos destinos de empresa conseguiu reduzir o número de trabalhadores em França de 130 mil para 100 mil.

Na sua comparência em tribunal durante o dia de ontem, Didier Lombard negou que a sua estratégia de redução de pessoal fosse a responsável pelos suicídios ocorridos.

Num artigo publicado ontem no jornal “Le Monde”, Lombard escreveu: “Os planos de reestruturação nunca tiveram a intenção de magoar os funcionários. Pelo contrário, os planos destinavam-se a salvar a empresa e a sua força de trabalho”.

“Rejeito em absoluto que os planos de reestruturação, que eram vitais para a sobrevivência da France Telecom, fossem a causa directa destas tragédias humanas”, pode ainda ler-se no mesmo editorial.

Em 2009 - em plena vaga de suicídios -, Lombard chocou a França ao considerar que eles reflectiam uma cultura de “imitação” na France Telecom.

Os sindicatos afirmam que, durante a época das reestruturações, foram colocadas metas impossíveis de cumprir aos funcionários precisamente para que estes pudessem ser despedidos ou para que ficassem desmoralizados e se demitissem.

“As pessoas foram sujeitas a uma pressão intolerável. Centenas foram forçadas a mudanças geográficas ou a acatarem novas funções. Algumas não aguentaram”, indicou à France 24 o sindicalista da CFE-CGC Sebastien Crozier.

“Toda a estratégia era a de reduzir o número de funcionários. Foi um método organizado e planeado para tornar as vidas dos funcionários tão complicadas que eles teriam de se demitir”, indicou o mesmo responsável.

Muitos dos suicidas deixaram claro, antes de morrer ou nas suas notas de suicídio, que as reestruturações na empresa estavam na base da sua decisão.

Esta é a primeira vez que um ex-CEO de uma multinacional responde diante de um tribunal francês por assédio psicológico, uma novidade que os sindicatos aplaudem.

Caso seja condenado, Lombard enfrenta uma pena de prisão até um ano e 15 mil euros de multa.