EUA enviam militares para combater o ébola na Libéria - mas isso pode ser pouco

Governo americano prevê gastar 750 milhões de dólares nos próximos seis meses. OMS diz que são precisos mil milhões de dólares para lutar contra a doença - se os casos não continuarem a aumentar.

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A epidemia já matou mais de mil pessoas na Libéria ZOOM DOSSO/AFP

Depois do anúncio da instalação de um pequeno hospital de campanha com apenas 25 camas, o Presidente norte-americano, Barack Obama, vai dizer nesta terça-feira, numa vista ao Centro de Controlo e Prevenção das Doenças, em Atlanta, que apoiará a construção de 17 centros de tratamento na Libéria, com cerca de 1700 camas.

Para além da ajuda na construção de centros de tratamento, os EUA vão enviar para os países da África Ocidental mais afectados pelo vírus ébola até 3000 militares. Ao todo, o Governo americano prevê gastar 750 milhões de dólares (580 milhões de euros) nos próximos seis meses.

Bruce Aylward, director-geral adjunto da Organização Mundial de Saúde (OMS) e coordenador do apoio à luta contra este surto infeccioso alertou no entanto que as necessidades financeiras para enfrentar esta febre hemorrágica aumentaram dez vezes no último mês - são agora de mil milhões de dólares. E vão continuar a aumentar, se o número de novos casos de doença não forem travados.

"Com toda a franqueza, a crise de saúde que estamos a enfrentar neste momento não tem precedentes no nosso tempo", afirmou Aylward, numa conferência de imprensa em Genebra. "Não sabemos como é que os números vão evoluir."

 A contabilidade mais recente da OMS diz que o vírus ébola matou 2461 pessoas, metade das 4985 que se sabe ter infectado. O número de vítimas duplicou em relação ao mês passado. 

A previsão feita pelas Nações Unidas de que poderiam haver 20 mil mortes por ébola já não parece assim tanto, disse Bruce Aylward. "Mas com uma resposta muito mais rápida", o número de vítimas poderia manter-se na casa das dezenas de milhares.

O plano da Casa Branca inclui a partilha do comando das operações na capital da Libéria, Monróvia, através de um destacamento do Departamento de Defesa dos EUA. Entre o pessoal militar que vai ser enviado para a Libéria estão especialistas que têm como missão treinar até 500 profissionais de saúde liberianos por semana.

Foi na Libéria que o ébola mais cresceu no último mês. Mas os dados divulgados antes do anúncio de Obama não especificam se a ajuda se alargará aos outros países afectados.

"Todos reconhecemos que esta epidemia é extraordinária e muito séria", disse um responsável do Governo dos EUA, citado por vários jornais norte-americanos sob a condição de anonimato.

William Schaffner, especialistas em doenças infecto-contagiosas na Universidade Vanderbilt, no estado norte-americano do Tennessee, descreveu o novo plano da Casa Branca como "um compromisso de primeira ordem", que parece ser "coordenado e coerente".

Em declarações ao The New York Times, o especialista explica que o Departamento de Defesa é "o verdadeiro núcleo" de todo o plano "porque o ponto principal de qualquer operação de contenção de uma epidemia é a capacidade de fazer chegar os bens aos sítios certos".

O The Washington Post escreve que o envolvimento dos militares norte-americanos indica que as autoridades do país reconhecem que a epidemia pode ficar ainda mais descontrolada.

"Todas estas valências, em conjunto, vão mudar o curso desta epidemia", disse o mesmo responsável norte-americano citado pelo The New York Times e pelo The Washington Post.

A Libéria foi o segundo país atingido pelo surto de ébola, que surgiu na Guiné-Conacri em Dezembro de 2013. Desde então, o vírus já chegou à Serra Leoa, Nigéria e ao Senegal, com uma pessoa infectada.

Na Libéria, 14 dos 15 municípios têm pessoas com ébola. Há quase 2000 pessoas infectadas e mais de um milhar de mortes. Segundo a OMS, a mortalidade neste país é de 58%, uma das mais altas.

Reunião do Conselho de Segurança

Face ao alastrar da epidemia, o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidos marcou uma “reunião de urgência para quinta-feira à tarde sobre o ébola. Samantha Powers, embaixadora americana na ONU e que preside ao CS em Setembro, disse que Washington espera que desta reunião saiam “compromissos concretos”.

Tão concretos como uma resposta ao pedido do coordenador da ONU para o Ébola, o médico David Nabarro, que esta terça-feira pediu, à semelhança do da OMS, aos países doadores “mil milhões” de dólares (cerca de 770 milhões de euros) para lutar contra o flagelo que alastra na África Ocidental. Um valou que corresponde ao dobro dos fundos pedidos há menos de um mês.

A ONU estima que 22,3 milhões de pessoas vivem nas regiões onde o vírus foi assinalado e estão a precisar de ajuda. Num documento agora divulgado, a ONU teme que até ao fim do ano cerca de 20 mil pessoas serão infectadas com o vírus do ébola:16% na Guiné, 40% na Libéria e 34% na Serra Leoa.

Entre quase cinco mil casos confirmados, já morreram cerca de 2500 pessoas.

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