Suspeito mais jovem do ataque em Paris entregou-se à polícia

Hamyd Mourad, de 18 anos, terá servido de motorista aos dois atiradores envolvidos no ataque ao jornal Charlie Hebdo que fez 12 mortos na capital francesa. Suspeitos ainda em fuga são dois irmãos de 32 e 34 anos considerados activos nos círculos islamistas.

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A operação centra-se num subúrbio da cidade do Nordeste francês chamado “Cruz Vermelha” AFP/FRANCOIS NASCIMBENI
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Um atirador da unidade de elite da polícia na operação de caça ao homem em Reims AFP/FRANCOIS NASCIMBENI
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Bombeiros transportam uma das vítimas do tiroteio desta quarta-feira no Charlie Hebdo REUTERS/Jacky Naegelen
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Investigadores da polícia francesa procuram provas durante a operação em Reims REUTERS/Christian Hartmann
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O momento em que dois dos três atiradores envolvidos no ataque disparam sobre um polícia ferido caído no chão REUTERS
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Um carro da polícia crivado de balas disparadas no tiroteio AFP
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Soldados franceses patrulham as ruas junto à Torre Eiffel: França está em alerta máximo contra o terrorismo AFP/JOEL SAGET
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Uma das imagens do ataque ao Charlie Hebdo: há 12 mortos confirmados AFP/ANNE GELBARD
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O carro usado pelos atiradores foi abandonado numa rua da capital francesa AFP/DOMINIQUE FAGET
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O Presidente francês, François Hollande, à chegada ao edifício do Charlie Hebdo AFP/KENZO TRIBOUILLARD
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Uma leitora com a edição desta quarta-feira do jornal satírico francês AFP/BERTRAND GUAY
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“Somos todos Charlie”, lê-se num placard durante a vigília no porto de Marselha AFP/ANNE-CHRISTINE POUJOULAT AFP/ANNE-CHRISTINE POUJOULAT
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Uma mulher de caneta em riste chora durante uma vigília pelas vítimas em Lyon AFP/JEFF PACHOUD AFP/JEFF PACHOUD
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Ainda a vigília em Marselha: "Eu sou Charlie" foi a mensagem mais repetida em manifestações em França e por todo o mundo AFP/ANNE-CHRISTINE POUJOULAT AFP/ANNE-CHRISTINE POUJOULAT
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Manifestação na Praça Real em Nantes AFP/GEORGES GOBET AFP/GEORGES GOBET
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Pessoas de caneta em riste na vigília junto à Câmara Municipal de Rennes AFP/DAMIEN MEYER AFP/DAMIEN MEYER
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"O amor é mais forte do que o ódio" na capa de um dos números do Charlie Hebdo exibido durante a manifestação em Paris AFP/DOMINIQUE FAGET
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Jornalistas da Agência France-Press fazem um minuto de silêncio em memória das vítimas AFP/BERTRAND GUAY AFP/BERTRAND GUAY

Os outros dois suspeitos, dois irmãos nascidos em Paris e de nacionalidade francesa, Said Kouachi, de 34 anos, e Chérif Kouachi, de 32 anos, ambos jihadistas já referenciados pelos serviços de contraterrorismo franceses, continuam em fuga. A polícia acredita que Hamyd Mourad terá servido de motorista e ajudado os dois atiradores nos ataques.

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, anunciou na manhã desta quinta-feira que foram detidas sete pessoas à medida em que avança a operação de caça ao homem montada pelas autoridades policiais francesas. Fontes da polícia citadas pelo Libération dizem que se tratava de homens e mulheres próximos dos suspeitos.

Desde as 23h desta quarta-feira que a polícia tem em curso uma operação antiterrorismo de larga escala para deter os suspeitos do ataque mais mortífero dos últimos 50 anos em solo francês. A operação, conduzida pela unidade de elite da polícia — o Raid —, centra-se nos arredores da cidade de Reims, no Nordeste de França, a cerca de 130 quilómetros da capital, onde as autoridades acreditam que estarão os dois suspeitos ainda em fuga do atentado em Paris que dizimou a redacção do jornal satírico Charlie Hebdo e fez um total de 12 vítimas mortais.  

Um mandado de captura nacional foi emitido nesta quarta-feira pela polícia contra os três homens, indicou a mesma fonte à AFP. Um dos irmãos ainda em fuga, Chérif, tinha já sido condenado em França em 2008 por participar no envio de combatentes para o Iraque.

A polícia divulgou entretanto fotos dos dois irmãos e apelou a quem os conhece que ajude as autoridades a encontrá-los. Chérif e Said Kouachi estarão "armados e são perigosos", alertou o comando da polícia em Paris.

Chérif Kouachi, de 32 anos, e o seu irmão Said, de 34

Há muito que França temia um ataque terrorista, mas não seria fácil de adivinhar o alvo. Dois homens armados entraram a disparar na redacção do jornal Charlie Hebdo, em Paris, matando 12 pessoas, incluindo oito jornalistas do semanário satírico – o seu director, conhecido como "Charb", mas também Wolinski, Cabu, Tignous, fundadores da publicação e cartoonistas que inspiraram gerações.

Os atacantes, caras tapadas e armas automáticas, entraram durante a reunião semanal da redacção. Há vídeos gravados por jornalistas onde se ouvem os dois homens gritar Allahu Akbar (Deus é grande) quando saem do edifício, antes de um disparar contra um polícia. “Vingámos o profeta Maomé! Matámos o Charlie Hebdo!”, grita um deles em seguida, antes de entrarem no carro em que fugiram.

Nenhum grupo reivindicou o ataque, embora muitos apoiantes dos jihadistas do autoproclamado Estado Islâmico o tenham celebrado ao longo do dia nas redes sociais. 

Vídeo do jornalista Martin Boudot, da agência Premières Lignes

A França sabe que cerca de mil dos seus cidadãos partiram para a jihad na Síria e no Iraque, onde estes radicais controlam províncias inteiras, e estima que 200 tenham regressado a casa. Nos últimos 18 meses a polícia secreta francesa diz ter travado cinco atentados. E em Maio do ano passado foi detido em Marselha Medhi Nemmouche, francês de 29 anos acusado do ataque que uns dias antes matara dois israelitas e um francês no Museu Judaico de Bruxelas. Nemmouche tinha passado um ano a combater na Síria.

O alvo poderia não ser o mais óbvio, mas não foi fortuito. Em 2006, o jornal republicou os polémicos cartoons de Maomé, inicialmente publicados na Dinamarca, e em 2011 viu a sua sede atacada antes da chegada às bancas de uma edição “dirigida” pelo profeta e intitulada Charia Hebdo, numa óbvia referência à lei islâmica (sharia). Desde então, havia sempre um polícia à porta da redacção e alguns cartoonistas estavam sob protecção policial. 

O último cartoon de Charb 

Fundamentalistas e ditadores não gostam de humor, como bem sabem os cartoonistas mortos e desaparecidos na Síria ou no Paquistão; presos e julgados no Egipto ou na Tunísia.

<_o3a_p>"Eu sou Charlie"
De todo o mundo – político e religioso – chegaram condenações e palavras de solidariedade. “Este crime obriga-nos a fazer a França juntos. Obriga-nos a ultrapassar as nossas diferenças de opinião e a sublinhar, juntos, o que nos une. Não deixemos que estes bárbaros matem a fraternidade que existe entre nós. Vamos persegui-los onde for necessário, porque a França vai mostrar-se mais forte do que estes dois fanáticos que quiseram rebaixar os franceses”, escreveu no Libération o antigo imã de Marselha Haidari Nassurdine.<_o3a_p>

A maioria dos líderes políticos fez apelos à unidade. “Nestes momentos, é preciso juntarmo-nos, mostrar que somos um país unido, que sabemos reagir da melhor maneira, com firmeza, mas com a união nacional nas nossas preocupações”, disse o Presidente, François Hollande, quando se deslocou, ainda de manhã, à rua do bairro XI onde fica a redacção do jornal. “A República deve unir-se”, reagiu o ex-Presidente de direita Nicolas Sarkozy.<_o3a_p>

Nas ruas, os franceses fizeram isso mesmo. Manifestações espontâneas juntaram 100 mil em Paris e por todo o país e concentrações semelhantes aconteceram na Espanha, Bélgica, Reino Unido, Holanda, Áustria, Estados Unidos. “Eu sou Charlie”, leu-se em cartazes por toda a parte. 


Em Roma, o primeiro-ministro, Matteo Renzi, juntou-se a uma manifestação diante da embaixada de França. “Somos todos franceses, porque pensamos que a liberdade é a única razão de ser da Europa e dos cidadãos europeus”, afirmou.<_o3a_p>

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, condenou um “ataque terrorista terrível”. “Este ataque horrível quer dividir-nos. Não vamos cair nessa armadilha.”

<_o3a_p>Espiral de violência
Um aviso com sentido e destinatários. “Isto é guerra”, escreveu na sua página de Twitter o populista anti-islão holandês Geert Wilders. Da Alemanha, o novo movimento anti-imigração, que visa sobretudo os muçulmanos, não deixou de usar o ataque contra o Charlie Hebdo para sublinhar a sua razão de ser. “Os islamistas, contra os quais o Pegida (Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente) tem alertado nas últimas 12 semanas, mostraram em França que não são capazes de praticar e democracia mas vêem a morte e a violência como solução”, escreveu o grupo na sua página de Facebook. “Os nossos líderes políticos querem convencer-nos do contrário. É preciso que uma tragédia destas aconteça na Alemanha?”

A unanimidade em França foi quebrada pelo tom da líder da extrema-direita Marine Le Pen. “A minha responsabilidade é dizer que o medo deve ser ultrapassado e que este atentado deve, isso sim, libertar a nossa voz face ao fundamentalismo islâmico, não nos calar e começar por ousar nomear o que aconteceu. Não ter medo das palavras: trata-se de um atentado terrorista cometido em nome do islamismo radical”, afirmou, num vídeo publicado no site da Frente Nacional.

“Se há algo que sabemos é que o extremismo não se combate com extremismo”, disse ao PÚBLICO Liz Fekete, directora do Instituto das Relações da Raça, em Londres. O problema, diz Fekete, não são as palavras de Le Pen ou Wilders, mas sim “a capacidade de os líderes políticos travarem a escalada de retórica”. "[Se isso não for possível], ficaremos fechados numa espiral de violência, em que a um atentado se responde com mais medidas securitárias, em que à força se reage com força.”

Racionalidade e inteligência
“Precisamos de racionalidade, de inteligência no Estado. Como [a chanceler] Angela Merkel, que não hesitou em condenar as manifestações de Dresden [onde nasceu o movimento Pegida, que ali tem saído à rua todas as segundas-feiras]. Ela disse ‘isto está errado’. E a Igreja Católica reagiu da mesma maneira, tomou uma posição, apagou as luzes da catedral, dizendo que não queria ser usada dessa forma”, afirma Fekete.<_o3a_p>

A investigadora em questões raciais descreve Paris como a “capital onde o anti-islamismo é mais mainstream na Europa”, isto num país onde os problemas com as terceiras e quartas gerações de muçulmanos são bem anteriores ao 11 de Setembro ou à guerra na Síria. Um exemplo: “O movimento anticasamento gay acabou por ser conotado com os muçulmanos quando foi alimentado na grande maioria por católicos fundamentalistas.”

É por isso que as palavras dos líderes políticos vão continuar a ser essenciais nos próximos dias. Esta quinta-feira, François Hollande vai receber delegações de todos os partidos no Eliseu. O dia a seguir ao pior ataque terrorista em 50 anos no país será de luto nacional. “As bandeiras estarão três dias a meia haste. Foi a República inteira que foi agredida”, afirmou o Presidente, às 20h, na segunda vez que falou aos franceses. “Devemos ser nós mesmos, conscientes de que a unidade é a nossa melhor arma.”

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