Erupção na Ilha do Fogo agrava-se e autoridades preparam evacuações
Governo propôs aumento do IVA para fazer face aos custos de reconstrução.
Depois de ter arrasado a povoação da Portela, a lava destruiu neste fim-de-semana a povoação da Bangeira. Não há registo de vítimas na pequena ilha de 37 mil habitantes.
Na tarde desta segunda-feira, numa conferência de imprensa, o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, antecipava a necessidade de evacuar mais locais. "A situação está a agravar-se e, neste momento, estamos a acompanhar sistematicamente a evolução da situação. Poderão ser evacuadas novas comunidades nas próximas horas. Já estamos a trabalhar neste sentido. Temos de ir acompanhando, sem fazer previsões", afirmou José Maria Neves, citado pela agência Lusa. Neves não revelou os nomes das localidades, nota a rádio Voz da América, mas disse que as autoridades estão a privilegiar o contacto directo com as comunidades antes de fazerem o anúncio público.
"A ministra da Administração Interna vai permanecer no Fogo para acompanhar directamente a situação e neste momento estamos minuto a minuto a acompanhar para ver as medidas que devemos tomar", acrescentou ainda o governante, de acordo com o jornal cabo-verdiano Expresso das Ilhas.
O vulcão entrou em erupção a 23 de Novembro e, desde aí, a lava cortou estradas, destruiu o edifício do Parque Natural da ilha do Fogo, galgou casas de apoio à agricultura, consumiu casas e igrejas, destruiu a Adega Cooperativa de Chã das Caldeiras e dizimou parcialmente a povoação de Cova Tina. A erupção intensificou-se a partir de sábado, com um avanço rápido da torrente de lava nos últimos três dias.
"As lavas saem do vulcão com uma velocidade média de 20 metros por segundos", referiu Jair Rodrigues, técnico dos serviços de operação de Protecção Civil de Cabo Verde, citado pela agência de notícias cabo-verdiana Inforpress. O avanço rápido da lava, descreveu Jair Rodrigues, assemelha-se, pelo ritmo e pela altura, a uma cheia. As autoridades não sabem qual o percurso que a lava vai seguir. A torrente já rondou os 300 metros de largura, antes de se dividir em dois grandes caudais.
Num balanço feito no domingo, a ministra do Interior, Marisa Morais, garantiu que a Protecção Civil está preparada "para os piores cenários". "O normal é a erupção vulcânica continuar. O cenário que estamos a prever é o de 1995, que demorou 56 dias", afirmou Marisa Morais, citada pelo Inforpress. O PÚBLICO contactou a Protecção Civil de Cabo Verde, mas não foi possível obter esclarecimentos.
O antigo presidente da Câmara Municipal de S. Filipe, Eugénio Veiga, que coordenou os trabalhos durante a erupção vulcânica de 1995, criticou a falta de coordenação e o racionamento da alimentação num artigo de opinião no Expresso das Ilhas.
O Governo montou entretanto um gabinete de crise para lidar com a situação. A equipa será responsável por elaborar um plano para realojar os residentes que ficaram sem casas e por voltar a construir as infra-estruturas. O Executivo propôs também na Assembleia Nacional um aumento do IVA, de 15% para 15,5% na generalidade dos produtos e serviço, para ajudar a custear a reconstrução das zonas destruídas.
Nos três centros de acolhimento onde estão os cerca de 1200 deslocados começam a ouvir-se críticas, contou o jornalista Waldemar Pires da televisão de Cabo Verde à Voz da América. "O ambiente não é bom, as pessoas queixam-se do atendimento e algumas começam a temer que as doações sejam desviadas para outros fins, não há confirmação, mas elas vão advertindo", conta Pires.
Também estão em curso acções de ajuda internacional. De Portugal partiu a fragata Álvares Cabral, com equipamento de telecomunicações, um helicóptero e material como camas, cobertores e máscaras respiratórias. O navio tem planeada uma missão de duas semanas, que poderá, no entanto, vir a prolongar-se. Já a União Europeia está a ajudar a monitorizar a erupção, através de satélites.
Coordenada com a embaixada de Cabo Verde, a União das Cidades Capitais de Língua portuguesa abriu uma conta destinada a donativos às vítimas do vulcão de Chã das Caldeiras e lançou uma campanha de apoio para o envio de bens, desde alimentos e roupa a produtos de higiene ou materiais hospitalares e tanques para depósitos de água de consumo. Os bens recolhidos seguem para a sede da Cruz Vermelha de Cabo Verde, na cidade da Praia, a capital do arquipélago.