Médicos dos EUA alimentam à força prisioneiros de Guantánamo em greve de fome
Barack Obama prometeu fechar o campo de detenção. A eventual morte de um grevista de fome é uma questão de saúde e bem-estar desses homens, mas também de segurança dos Estados Unidos, diz especialista em contraterrorismo ouvida pela AFP.
Dos 166 prisioneiros de Guantánamo, 100 estão em greve de fome – são números oficiais, ultrapassados pelos 130 estimados pelos advogados. O movimento nasceu a 6 de Fevereiro pela forma como os guardas examinaram o Corão, durante uma busca, mas depressa se transformou num protesto contra a detenção indefinida sem julgamento ou culpa formada da maioria dos prisioneiros, alguns em Guantánamo há mais de dez anos.
Os 86 prisioneiros declarados passíveis de serem libertados por não constituírem ameaça continuam presos por restrições impostas pelo Congresso dos EUA.
A barreira simbólica dos 100 prisioneiros em greve de fome foi atingida no último fim-de-semana, altura em que chegaram à base naval norte-americana em Cuba reforços das equipas de especialistas e 40 enfermeiros da Marinha, bem como elementos militares, treinados para dar assistência médica básica.
Pelo menos 21 perderam muito peso e estão a receber alimentos líquidos por tubos nasais, escreve a AFP. Jeremy Lazaruz, presidente da Associação dos Médicos, enviou uma carta ao secretário de Estado da Defesa, Chuck Hagel, exortando-o a garantir que não sejam exigidas aos médicos práticas que violem as regras éticas da profissão.
“Não vamos permitir que os detidos façam mal a si próprios, o que inclui tentativas de suicídio mas também situações de fome extrema auto-induzidas ou pressionadas por outros prisioneiros”, disse o porta-voz do Pentágono, tenente-coronel Todd Breasseale.
Responsáveis militares citados pela AFP garantem que a ingestão dos alimentos se faz de forma suave, por tubos flexíveis. E dizem que muitos dos prisioneiros estão a ser pressionados por outros para aderir ao protesto.
Promessa de fecho por cumprir
O protesto iniciado a 6 de Fevereiro intensifica-se todas as semanas, tornando-se inédito pela dimensão e natureza. Andrea Pawson, especialista em contraterrorismo da organização Human Rights Watch, diz à AFP que a morte de um prisioneiro, a acontecer, coloca não apenas questões de saúde ou bem-estar destas pessoas; coloca "questões sérias de segurança nacional ". Porque a morte de um prisioneiro seria vista "fora dos EUA como sendo da responsabilidade dos EUA".
E conclui: este é o “momento mais crítico da história de Guantánamo”. Uma história de 11 anos. O seu fim foi anunciado pelo Presidente Barack Obama na tomada de posse do primeiro mandato em 2009. Continua por cumprir.
Na sexta-feira passada, a Casa Branca prometeu acompanhar de perto a situação dos prisioneiros em greve, garantiu que Obama “mantém o compromisso” de fechar Guantánamo e lembrou que um obstáculo fundamental continua a ser a oposição no Congresso.