Sondagem diz que Marina Silva vencerá segunda volta das presidenciais no Brasil
Pode o Brasil enveredar pela terceira via?
E na falta de um vencedor claro do debate, acabou por ser Marina a ganhar a noite: com um desempenho seguro, bem preparado e sem erros, afastou as dúvidas sobre a sua candidatura e afirmou a viabilidade do seu projecto como real alternativa e “terceira via” política. “O meu objectivo é combater a velha polarização que há 20 anos constitui um atraso para o nosso país”, frisou, prometendo governar com “bons quadros” de “visão estratégica”, independentemente dos seus partidos.
Apesar da entrada fulgurante de Marina Silva na corrida presidencial, ainda é cedo para perceber se será ela a mudança que os eleitores brasileiros dizem querer mais do que tudo. Os dados do Ibope mostram que a reeleição ainda está nas mãos da Presidente Dilma Rousseff, candidata a um segundo mandato, e que reúne 34% das intenções de voto na primeira volta, já no dia 5 de Outubro. Porém, as contas da candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) complicam-se no caso de uma segunda volta – um cenário que nem os petistas mais optimistas duvidam que vá acontecer.
Aí, só se o duelo for contra o candidato do rival histórico Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Aécio Neves, é que Dilma “tira de letra”, para usar uma expressão brasileira: a sondagem dá 41% à actual Presidente, contra 35% do político tucano, ex-governador e senador do estado de Minas Gerais e neto de Tancredo Neves, um dos políticos mais populares de sempre no Brasil.
Mas se o eleitorado se mantiver fiel às opiniões registadas pelo Ibope, Rousseff disputará a segunda volta contra Marina Silva, que já abriu uma margem de dez pontos sobre Aécio (29% e 19%, respectivamente) na última quinzena de campanha. E que voltará a beneficiar de uma confortável vantagem de 45% contra 36% de Dilma: como escrevia a Folha de São Paulo, a sondagem fez acender um sinal amarelo de alerta na campanha petista, que pela primeira vez foi forçada a admitir a possibilidade de derrota.
No campo de Marina Silva, contudo, evitam-se declarações eufóricas e triunfalistas; a ordem é manter a humildade. Os responsáveis da campanha da coligação, que é liderada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), repetem que ainda é cedo para perceber se o salto da candidatura nas sondagens reflecte a comoção do eleitorado com a trágica morte de Eduardo Campos, num acidente aéreo a 13 de Agosto, ou é já sintomática da adesão ao projecto de renovação política de Marina Silva – cujos contornos, segundo os críticos, são tão indefinidos quanto ela própria.
A mesma precaução é usada pelo PSDB. “As pesquisas que virão após os debates, em 15 ou 20 dias, darão um quadro mais real [do estado da corrida]”, comentou Aécio Neves, que de repente se encontra na desconfortável posição de ter de torpedear Marina para sobreviver até à segunda volta. Essa não foi, contudo, a sua estratégia no primeiro debate, em que dirigiu todo o fogo contra Dilma e só alfinetou Marina uma única vez, ao pedir-lhe exemplos concretos da “nova política” que ela tanto reclama. Os analistas aconselhavam um novo plano de ataque: o tucano acredita que a ecologista é “uma onda que vai passar”, mas a sua campanha corre o risco de morrer na praia se não enfrentar a maré.
Ao contrário de Campos, que era muito popular no seu estado de Pernambuco mas ainda um desconhecido para o resto dos brasileiros, Marina Silva é uma figura já familiar para o eleitorado: ela é ex-ministra do ambiente do Governo de Lula da Silva, ex-senadora do estado rural do Acre, ex-candidata presidencial pelos Verdes e líder do movimento ecologista Rede Sustentabilidade. Mais do que isso, o país já conhece o seu “peso” eleitoral: em 2010, a ecologista surpreendeu ao conquistar quase 20% dos votos.
Ao longo do primeiro debate, Marina mostrou ter feito o trabalho de casa para não desperdiçar esse capital político. Esteve particularmente acutilante ao falar nas grandes manifestações e protestos que tomaram conta das principais cidades brasileiras no Verão de 2013, exigindo saber onde pára a reforma política e as mudanças institucionais prometidas pela Presidente e pelos partidos no Congresso.
Há quatro anos, foi nas cidades e entre os jovens e as classes mais escolarizadas que Marina fomentou a sua base de apoio, precisamente os grupos que mais se envolveram (ou interessaram) pelos protestos. A sua campanha veio resgatá-los para a eleição, bem como os insatisfeitos ou desiludidos que tencionavam votar branco ou nulo: os dados do Ibope mostram que, depois da ascensão de Marina à cabeça da “chapa” do PSB, o número de votos brancos e nulos caiu seis pontos de 13% para 7%, e a de indecisos baixou de 11% para 8%.
No rescaldo do debate televisivo (o primeiro de três), os comentadores garantiam que a campanha vai mudar, e necessariamente aquecer. “O jogo mais pesado ainda está por vir”, avisava um analista. Mas a tensão nas campanhas do PT e PSDB, provocada pela ascensão de Marina, é inegável – a Folha dizia mesmo que os tucanos têm precisamente 39 dias para “evitar um fiasco histórico”, uma vez que desde 1994 nunca falharam a discussão na segunda volta.