Napolitano aceita "demissão irrevogável" de Letta, novo governo é conhecido no sábado
As europeias de Maio vão averiguar a verdadeira implantação do PD e a popularidade de Renzi.
“Já estou no Quirinal para apresentar a minha demissão ao chefe de Estado. Muito obrigado a todos os que trabalharam comigo todos os dias como se fosse o último”, escreveu Letta no Twitter, antes de entrar no palácio, em Roma. Este democrata-cristão chefiou um executivo peculiar sustentado por uma coligação inédita entre o centro-direita e a esquerda.
Pouco tempo depois surgiu o comunicado da presidência, afirmando que Georgio Napolitano aceitara a "demissão irrevogável" de Letta e que as consultas para a formação de um novo governo vão começar já na tarde de sexta-feira para que o executivo seja anunciado no sábado.
A demissão fora anunciada na quinta-feira e foi o desfecho do braço e ferro entre Letta e Renzi, com o chefe do Governo a tentar evitar a queda de mais um governo em Itália apresentando ainda um programa de Governo. Mas a fuga para a frente de Letta acelerou a ambição política de Renzi, que conseguiu do seu Partido Democrata permissão para deixar cair Letta.
Renzi surge na primeira página da edição desta sexta-feira do L’Expresso a saltar de um trampolim e o jornal diz que a sua jogada política de alto risco pode “coroar a sua liderança” ou transformar a sua popularidade numa “nuvem de fumo”.
Uma sondagem publciada pelo Huffington Post diz que 61% dos italianos não gostaram da golpada de Matteo Renzi e defendem a realização de legislativas no prazo de seis meses.
Em Maio haverá europeias, e nelas se perceberá melhor a verdadeira implantação do PD — e o resultado da Força Itália de Berlusconi ou do 5 Estrelas de “Beppe” Grillo.
Mario Calabresi, director do La Stampa, escreveu que esta súbita crise política — que poucos esperavam, apesar da clara ofensiva de Renzi contra Letta; haveria um pacto de estabilidade para manter este governo em funções até ao fim do ano — provocou “incredulidade” pois os italianos queriam ser eles, através de eleições, a decidir quem é o novo primeiro-ministro. No contexto actual, Renzi deverá substituir Letta uma vez que o seu partido é dominante na coligação governamental e parlamentar entre a esquerda e o centro-direita.
“Com a queda de Enrico Letta, sacrificado pelos seu próprio campo, a Itália volta a cair nas suas velhas crises que fazem aparecer governos atrás de governos. Isso é fruto de um sistema político obsoleto no qual o chefe do Governo é um dos elos mais fracos”, considera a AFP. O futuro governo será o quarto em menos de dois anos.