Ébola: EUA iniciam despistagem nos aeroportos perante avisos de que resposta à epidemia está a falhar

“Este é o desafio mais extraordinário que o mundo poderia enfrentar”, avisa o coordenador das Nações Unidas ao pedir mais fundos para combate à doença.

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Passageiros oriundos dos países africanos atingidos pelo surto vão responder a um inquérito adicional Mark Ralston/AFP

Os Estados Unidos decidiram reforçar as fronteiras após depois da morte, na quarta-feira, de Thomas Duncan, um liberiano que adoeceu em Dallas, quase uma semana depois de regressar do seu país de origem, naquela que é a primeira morte registada no país.

O protocolo aprovado prevê que os agentes de controlo fronteiriço meçam a temperatura e avaliem se os passageiros que chegam nos voos internacionais apresentam sintomas suspeitos de ébola. Os cidadãos ou quem tenha visitado recentemente os três países africanos mais afectados pela epidemia – Libéria, Serra Leoa e Guiné – terão ainda de responder a um inquérito adicional, sobre as viagens que efectuaram antes de entrar nos EUA e eventuais contactos com pessoas infectadas. Perante um caso suspeito, agentes do Centro para o Controlo de Doenças (CDC) será chamado e determinará as medidas a aplicar.

A despistagem deverá entrar em funcionamento nos próximos dias em outros quatro aeroportos internacionais norte-americanos – Newark, Atlanta, Washington Dulles e O'Hare em Chicago – por onde passam cerca de 90% das pessoas que chegam ao país. Os EUA não têm actualmente voos directos para os três países atingidos pela epidemia, mas as estatísticas mostram que todos os dias entram no seu território 160 pessoas dos três países mais afectados.

Entretanto, dezenas de entidades em todo o Reino Unido vão participar no simulacro para testar a capacidade de resposta do país. Não foram revelados os locais abrangidos pelo exercício, anunciado depois de vários peritos terem contestado a decisão do Governo que, quinta-feira, decidiu reforçar as acções de despistagem nos dois principais aeroportos do país e nos terminais do comboio Eurostar.

Sabe-se, no entanto, que pessoas simulando sintomas da doença vão deslocar-se a unidades de saúde e outros locais para detectar eventuais falhas nos protocolos determinados pelas autoridades para detectar e isolar pacientes com ébola. O Governo vai também simular uma reunião do comité de emergência e vários hospitais vão testar os equipamentos e os planos desenhados para responder ao eventual surgimento de casos suspeitos.

Em todos os continentes, dezenas de países estão a reforçar os seus planos de contingência – acções adoptadas depois de, na última semana, uma auxiliar de enfermagem madrilena que integrou as equipas que trataram de um missionário espanhol infectado em África ter adoecido. Mas enquanto os países desenvolvidos se inquietam com a possibilidade de serem atingidos, os países africanos continuam sem capacidade de resposta para tratar a epidemia. A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) avisou que o seu principal centro de tratamento na Guiné está próximo da “saturação” e na Libéria, onde se regista o maior número de vítimas mortais, os profissionais de saúde iniciaram sexta-feira uma greve para exigir compensação pelos riscos que correm.

Esta epidemia “progride muito rapidamente, mais depressa do que os nossos esforços para a conter”, afirmou sexta-feira David Nabarro, o coordenador da resposta das Nações Unidas ao ébola, numa reunião em que sublinhou que a organização conseguiu apenas reunir 25% dos mil milhões de dólares que diz precisar para combater a doença. “Este é o desafio mais extraordinário que o mundo poderia enfrentar”, avisou. “Por vezes vemos filmes sobre este tipo de situações e imaginamos como seria. Mas isto é mais grave do que qualquer filme que eu já tenha visto”, acrescentou.

Na quinta-feira, o presidente do Banco Mundial, Jim Kim, tinha já dito que o mundo “falhou miseravelmente” na resposta à epidemia e que a comunidade global ainda “não se está a mexer suficientemente depressa”. Um dia depois, o director do CDC norte-americano, Thomas Frieden, afirmou que o mundo precisa de se mobilizar para responder o quanto antes a um desafio que equiparou ao da pandemia de sida. “Há 30 anos que trabalho em saúde pública e a única coisa que vi desta dimensão foi a sida”, afirmou Thomas Frieden.

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