Director do The Guardian diz que os ficheiros de Snowden "estão seguros" e vão continuar a dar notícias

Alan Rusbridger compareceu perante a comissão parlamentar de assuntos internos.

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Alan Rusbridger testemunhou perante o comité parlamentar de assuntos internos. REUTERS/Andrew Winning

Rusbridger foi chamado pelos deputados a responder pela repercussão das revelações feitas pelo seu jornal sobre o âmbito e o funcionamento dos programas conduzidos pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla original) e a sua congénere britânica, Government Communications Headquarters ou GCHQ – numa audiência oficialmente agendada como uma sessão de esclarecimento sobre questões de contra-terrorismo. O director do jornal apresentou uma forte defesa não só do trabalho jornalístico realizado até agora, mas principalmente do direito da opinião pública a conhecer e discutir os factos denunciados por Snowden.

“Não consigo lembrar-me de nenhuma outra história recente que tenha feito um ricochete à volta do mundo maior do que esta, e que tenha gerado tanto debate nos parlamentos, tribunais e entre organizações não-governamentais. A lista de personalidades que consideraram necessário discutir este assunto inclui três Presidentes dos Estados Unidos e dois vice-presidentes, generais e directores de segurança – todos defendem, em retrospectiva, que este era um debate essencial e urgente”, notou.

E apesar da intensa pressão que tem sido exercida sobre o seu jornal, Rusbridger prometeu que os ficheiros fornecidos por Edward Snowden vão continuar a ser trabalhados. “Não nos deixaremos intimidar, mas também não agiremos de forma irreflectida ou irresponsável”, declarou."Penso que publicámos 26 dos 58 mil que vimos."

O director do The Guardian contestou a leitura – repetida  por deputados conservadores – de que a publicação das notícias sobre os programas da NSA e GCHQ punha em causa a defesa nacional e comprometia a segurança operacional dos agentes desses serviços, favorecendo os terroristas. “O problema destas acusações é que são vagas e não se baseiam em nenhum facto específico”, assinalou Rusbridge. Vários dirigentes da Administração norte-americana e do Governo britânico disseram publicamente que nenhum agente e nenhuma operação estavam em risco por causa das notícias do The Guardian, sublinhou.

"É patriota?"

Assinalando o carácter “vincadamente pessoal” que assumiram grande parte das críticas dirigidas contra Rusbridger e o Guardian por causa da publicação dos segredos divulgados por Snowden, o presidente da comissão, Keith Vaz, abriu o inquérito com uma questão sobre o patriotismo do director do jornal. “O senhor, tal como eu, não nasceu no Reino Unido. Pode dizer-me se ama este país?”, perguntou o deputado trabalhista originário da província de Goa (Rusbridger nasceu em 1953 em Lusaka, a actual capital da Zâmbia, que na altura ainda era Rodésia do Norte, um protectorado do Reino Unido).

“Confesso que estou muito surpreendido pela sua pergunta, mas sim, somos patriotas e uma das razões do nosso patriotismo é a natureza da nossa democracia, a natureza da nossa imprensa livre e o facto de, neste país, ser possível reportar e discutir assuntos como este”, respondeu o jornalista, referindo-se ao programa secreto de vigilância electrónica.

“Então a razão por que fez tudo não foi para prejudicar o país? Foi para o país compreender o que se passava no que diz respeito ao programa de vigilância?”, insistiu Vaz. “Há países, e geralmente não são democracias, onde a imprensa não é livre de escrever sobre estes assuntos, onde os serviços secretos dizem aos editores o que podem escrever e os políticos censuram os jornais. Mas no Reino Unido, temos liberdade para escrever e para pensar, e temos também direito à privacidade. O que fizemos foi contrabalançar todas as nossas preocupações, também em nome da segurança nacional, que nunca ninguém subestimou”, frisou Rusbridger.
 

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