Dezenas de mortos em novos confrontos no Egipto

Pelo menos 50 manifestantes foram mortos a tiro no Cairo. Há mais de 30 pessoas mortas noutras cidades

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Dezenas de feridos foram levados para uma mesquita da capital egípcia Louafi Larbi/Reuters

Ouviram-se disparos de armas automáticas no centro do Cairo, e o exército sobrevoou a cidade com helicópteros. Os principais incidentes aconteceram na praça Ramsés, onde dezenas de milhares pessoas se concentraram depois das orações desta sexta-feira, em resposta ao apelo da Irmandade Muçulmana em repúdio pelo massacre de quarta-feira – o último balanço da violência desencadeada pela ofensiva das forças de segurança contra acampamentos dos apoiantes do Presidente deposto ultrapassa já os 600 mortos.

Não se sabe exactamente o que desencadeou a violência, mas jornalistas na praça contam que a polícia começou por usar gás lacrimogéneo contra os manifestantes e, quando a multidão fugia do local, começaram a ouvir-se disparos. De imediato começaram a chegar a uma mesquita vizinha muitos feridos. “Contei 20 corpos na mesquita de Al-Fatah. Um homem acaba de morrer à minha frente”, escreveu no Twitter um correspondente do Guardian na capital egípcia.

“Há camionetas, carros e motorizadas a transportar feridos a cada minuto para o hospital montado por trás da praça”, relatou, por seu lado, uma jornalista da BBC no local. Um edifício perto do local incendiou-se.

O acesso à Praça Tahir foi bloqueado pelas autoridades. Antecipando o poder de mobilização da Irmandade, o Exército colocou blindados a cortar os principais acessos ao centro da capital e vários habitantes da zona organizaram-se para impedir os islamistas de entrarem nos seus bairros.

Ouviram-se disparos em diferentes pontos da capital e a televisão estatal, que tem sido parca na divulgação de imagens de violência, mostrou imagens de homens a disparar metralhadoras a partir de uma ponte da capital, não sendo possível perceber se se tratavam de manifestantes ou membros das forças de segurança.

O apoio saudita aos generais
Numa reacção à crise no Egipto, os líderes da França, Reino Unido e Alemanha pediram que a União Europeia condene a uma só voz a violência no maior país do mundo árabe. Em Bruxelas, também o presidente da Comissão Europeia e a chefe da diplomacia dos Vinte e Oito defenderam que os Estados-membros devem coordenar-se para responderem  seu Governo "vai rever as suas relações com o Egipto”.

Em sentido contrário, o rei Abdullah da Arábia Saudita divulgou uma mensagem na televisão estatal assegurando que o seu país “apoia os irmãos egípcios na sua luta contra o terrorismo”. "Apelo a todos os homens honestos dos países árabes e muçulmanos que defendam o Egipto, uma nação de vanguarda na história das nações árabes e muçulmanas", disse o rei saudita, que era um apoiante do regime de Hosni Mubarak.

A maioria dos países árabes, aliás, deu o seu aval tácito à intervenção do Exército, que a 3 de Julho derrubou o Presidente eleito Mohamed Morsi, mas até agora nenhum tinha sido demasiado explícito nesse apoio. 

A reacção saudita surge dois dias depois de o Presidente norte-americano, Barack Obama, ter condenado “veementemente” a repressão das manifestações. “Deploramos a violência contra civis, opomo-nos à lei marcial e rejeitamos o princípio de que a segurança é superior à liberdade individual”, disse Obama, acrescentando que a cooperação militar com o Egipto “não pode continuar como o costume quando civis estão a ser atacados”.

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