Coreia do Sul quer voltar a reunir famílias separadas pela guerra de há 60 anos
A proposta de Park Geun-Hye é vista como uma tentativa de aliviar a tensão entre os dois países que puseram fim ao conflito entre 1950-53 mas nunca assinaram um acordo de paz.
Agora, a Presidente sul-coreana quer retomar essas iniciativas para “sarar as muitas feridas no coração” das pessoas que ficaram separadas dos seus familiares e como forma de aliviar a tensão entre os dois países.
No seu discurso do novo ano, nesta segunda-feira, Park Geun-Hye falou sobretudo dos mais velhos separados das suas famílias desde 1953 quando a guerra chegou ao fim com um armistício mas sem um acordo de paz e deixou Norte e Sul sem possibilidade de qualquer contacto. Milhões de pessoas deixaram subitamente de poder ter qualquer contacto ou receber notícias dos seus familiares do outro lado da fronteira, por não estarem autorizadas a fazer telefonemas ou enviar cartas ou, mais tarde, mensagens por correio electrónico.
A iniciativa de Park Geun-Hye, na presidência da Coreia do Sul há quase um ano, é vista pelo correspondente em Seul do jornal britânico The Guardian como um gesto significativo de desanuviamento das relações entre os dois países. No mesmo discurso, Park Geun-Hye evocou a recente execução de Jang Song-Thaek, o tio do líder Kim Jong-Un, para defender a imprevisibilidade do regime de Pyongyang e as dúvidas relativas à sua estabilidade. A líder sul-coreana não depositou grandes esperanças, mas disse-se disponível para dialogar com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, e falou na possibilidade de os dois países abrirem “uma era da reconciliação”.
“A recente execução de Jang Song-Thaek torna ainda mais difícil prever” o futuro das relações entre o Norte e o Sul, disse a Presidente no discurso citado pela AFP. Jang Song-Thaek era uma influente figura do regime, que guiou Kim Jong-Un na sucessão depois da morte do pai Kim Jong-Il em 2011, lembra o Guardian. “Estamos preparados para todas as possibilidades”, acrescentou Park Geun-Hye, deixando uma mensagem: “O que é importante não são as palavras mas as acções. No ano passado, a Coreia do Norte falou de melhorias nas relações Norte-Sul, mas sabemos muito bem como agiu na realidade.”
Ataque nuclear piorou relações
As relações entre Pyongyang e Seul pioraram muito desde as ameaças de Kim Jong-Un em 2013 de lançar um ataque nuclear contra os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão.
Até 2010, as famílias podiam reunir-se durante alguns dias e conhecer, pela primeira vez, ou desfrutar da presença de familiares, em encontros organizados pela Cruz Vermelha. A última vez que uma iniciativa desse tipo foi organizada, em Setembro de 2013, acabou por ser cancelada, depois de Pyongyang acusar Seul de “hostilidade”.
Na lista de espera para essas reuniões estarão mais de 72 mil sul-coreanos, metade dos quais com mais de 80 anos, escreva o Guardian. Cerca de 17 mil pessoas dos dois lados da fronteira fortificada beneficiaram desses encontros entre 2000 e 2010, depois de décadas de separação forçada. “Espero que as famílias separadas sejam autorizadas a reencontrar-se no novo ano lunar [altura em que na Ásia se celebra o ano novo], e que isso ajude a sarar as feridas nos seus corações", afirmou a Presidente sul-coreana.
Com este gesto, mas também com uma promessa de um reforço da ajuda humanitária (que o Sul faz chegar ao Norte através de organizações internacionais e agências da ONU, como a Unicef), a chefe de Estado sul-coreana quis mostrar que, se Pyongyang ajudar, Seul estará disposta a dar um novo fôlego às relações entre os dois países. Park Geun-Hye diz estar disponível para um encontro com Kim Jong-Un, "se for necessário para a paz na península e para os preparativos para uma reunificação", nota o jornal Korea Times.