Coreia do Norte executou mais de 1300 pessoas desde 2000
Relatório do Instituto Coreano para Unificação Nacional aponta o contrabando como o principal motivo para a aplicação da pena de morte. Mas também registou vários casos de execuções por “crimes contra o regime”.
Desde 1996 que o KINU, uma ONG financiada pelo Governo da Coreia do Sul, publica anualmente o White Paper on Human Rights in North Korea (Livro Branco sobre Direitos Humanos na Coreia do Norte), um relatório que faz o levantamento dos dados relacionados com a violação dos direitos humanos no país de Kim Jong-un. Na passada quarta-feira o documento foi partilhado no site oficial da organização, na sua versão original. A publicação da versão inglesa do relatório está prevista para Agosto de 2015.
O documento de 455 páginas refere, segundo noticia o Guardian, que nos últimos 13 anos foram executadas 1382 pessoas. Este número foi estimado tendo em conta uma série de entrevistas a 221 dos 1,396 desertores norte-coreanos que fugiram do país em 2014. O ano em que se registaram mais execuções foi em 2008, num total de 161 pessoas sentenciadas à pena capital.
O jornal da Coreia do Sul Korea Times diz ainda que os números apenas reflectem as execuções públicas, realizadas em estádios e praças. “Acreditamos que houve uma série de execuções que não foram testemunhadas por aqueles que nós entrevistámos”, disse um funcionário, anónimo, da equipa de estratégia e relações públicas do KINU ao Korea Times, admitindo que o número de execuções pode ser superior ao anunciado.
Embora as execuções públicas sejam uma prática comum, que tem como objectivo “colocar os norte-coreanos em sentido”, esta realidade pode esconder outras aplicações da pena de morte, realizadas nos campos de trabalho ou nas prisões do país. A Amnistia Internacional calcula, num relatório que mostra dados de 2013, que cerca de 200 mil pessoas estarão presas pelo regime de Kim Jong-un e que a maioria são presos políticos.
Outro jornal sul-coreano, o The Korea Herald, aponta a “visualização e a distribuição de DVDs de (…) filmes da Coreia do Sul” e o “tráfico de droga”, como o principal motivo para as autoridades norte-coreanas decretarem a execução como pena. Os casos da recente aplicação da pena de morte a Hyon Yong-chol, ex-Ministro da Defesa e, principalmente, a Jang Song-thaek, tio do actual líder do país, mostram que a justificação de “crimes contra o regime” é ainda uma acusação regularmente aplicada no República Popular Democrática da Coreia.
Este domingo, a agência noticiosa estatal da Coreia do Norte faz referência a um comunicado de um porta-voz do Conselho dos Direitos Humanos do país, no qual refere que o White Paper não passa de um “documento mentiroso”, feito pela “escumalha humana que traiu o país e o povo” coreano. Acusando os membros do “Governo fantoche” da Coreia do Sul de “psicopatas”, o porta-voz diz ainda que “nunca conseguirão pintar uma imagem errada” da Coreia do Norte e do seu “sistema socialista sagrado”, “elogiado em todo o mundo” e descrito por todos como “uma terra de felicidade”.
EUA executaram 761 em igual período
Entre os países que mantêm a pena capital, alguns não revelam o número de execuções que levaram a cabo, com é o caso, por exemplo, da China. Mas esses números são públicos nos Estados Unidos. Segundo os dados do Centro de Informação sobre a Pena de Morte foram executadas 761 pessoas, entre 2000 e 2013, o mesmo período contabilizado pelo KINU, para a Coreia do Norte.
O Guardian refere, também, que existem casos mais preocupantes em termos de números totais de execuções. Refere o jornal britânico que 80% das pessoas executadas a nível mundial, a mando das autoridades estatais, se distribui entre a Arábia Saudita, o Iraque e o Irão.
Texto editado por Joana Amado