Companheiro de jornalista que tem divulgado espionagem detido em Londres

Autoridades usaram poderes da lei antiterrorismo. Perguntas foram sobre o trabalho jornalístico do Guardian sobre a NSA.

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David Miranda passou por Heathrow a caminho do Rio de Janeiro, onde vive com Greenwald Ricardo Moraes/Reuters

O caso está a provocar indignação – das autoridades do Brasil (David Miranda é brasileiro), de alguns políticos britânicos, e do Guardian – e o líder da Comissão de Assuntos Internos do Parlamento britânico Keith Vaz, já veio dizer que pediu uma clarificação à polícia e que os factos completos da detenção têm de ser conhecidos rapidamente.

O Guardian diz que Miranda foi detido quando estava em trânsito de Berlim para o Rio de Janeiro, onde vive com Greenwald, via Heathrow. No aeroporto londrino a polícia britânica deteve-o durante o máximo tempo permitido pela lei antiterrorismo – nove horas.

Todos os seus equipamentos foram confiscados: o seu portátil, telemóvel e pen USB. Foi libertado sem qualquer acusação, e a maioria das questões que lhe foram colocadas foram sobre o trabalho jornalístico de Greenwald e outros jornalistas do Guardian em relação à NSA. Greenwald diz que a polícia não fez ao seu companheiro nem uma pergunta relacionada com terrorismo.

Greenwald entrevistou Snowden e usou entre 15 a 20 mil documentos que este lhe passou para divulgar detalhes dos métodos de espionagem da agência norte-americana, por exemplo, um programa para recolha de dados em larga escala que lhe permite aceder a "quase tudo o que um utilizador comum faz na Internet".

Um porta-voz da polícia britânica disse apenas que Miranda tinha sido detido com base na Lei do Terrorismo de 2000. Esta, explica a agência Reuters, dá poder às autoridades para “determinar se aquele indivíduo é uma pessoa que possa ter a intenção de mandar, preparar ou executar actos de terrorismo.”

Em Berlim, Miranda tinha-se encontrado com a realizadora Laura Poitras, que também tem trabalhado com Greenwald e o Guardian no caso da NSA.

“Esta medida não tem justificação já que envolve um indivíduo contra quem não há acusações que possam valer este uso da legislação”, disse o Ministério brasileiro dos Negócios Estrangeiros em comunicado.

O deputado trabalhista Tom Watson pediu que o assunto fosse analisado pelo Parlamento britânico: “Acho que o que vamos ver é que os serviços de informação passaram das marcas – estão claramente a tentar intimidar Glenn Greenwald, e isso é um ataque ao jornalismo”, considerou.

Greenwald também disse que a medida era uma tentativa de intimidação mas ripostou: “Não percebem que apenas vai ter o efeito contrário: vou investigar mais agressivamente e com um espírito mais aguerrido”, disse o jornalista à BBC. 

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