Com a fuga de Ianukovich, a Ucrânia ganhou uma nova atracção turística
A luxuosa propriedade do Presidente destituído continua aberta ao público.
“Estou em choque”, diz Natalia Rudenko, militar na reforma, contemplando os relvados imaculados, ornamentados com estátuas de coelhos e veados, nesta propriedade situada a uma quinzena de quilómetros de Kiev e vista por muitos ucranianos com um símbolo da corrupção do regime.
“Num país onde há tanta pobreza, como é que uma pessoa pode ter tanto? Só pode ser um doente mental”, diz Natalia Rudenko. “É preciso que o mundo veja isto e que Ianukovich seja levado à justiça”.
A ex-militar não é a única a interessar-se pelo modo de vida da elite ucraniana: a afluência de curiosos à casa de Ianukovitch provocou engarrafamentos na estrada de acesso à propriedade e uma fila interminável de pessoas junto ao imponente portão de ferro forjado da propriedade.
“Tenham calma, toda a gente vai entrar. É suficientemente grande para todos”, grita ao megafone, um militante da oposição empoleirado numa coluna. Os visitantes são avisados para terem cuidado com possíveis minas colocadas nas zonas de delimitação da propriedade e contra os “provocadores” que possam querer degradar o local. “Bem-vindos à Ucrânia”, grita, enquanto vai deixando passar a multidão.
Protegido até à noite de sexta-feira por dezenas de guardas de elite, a propriedade de Ianukovich está agora a ser guardada pelos serviços de segurança da oposição. São eles que patrulham o local, impedindo o acesso ao interior dos edifícios e impedindo eventuais pilhagens. À entrada já foi colocado um aviso: “visitantes, não destruam as provas da arrogância dos ladrões.”
E as casas de banho?
O edíficio principal, uma espécie de palácio barroco, é todo em mármore e está cheio de ícones cobertos de ouro e armaduras antigas. Algumas caixas de cartão estão espalhadas pelo chão, sinal de uma partida apressada. Meio divertidos, meio furiosos, alguns visitantes ensaiam poses junto a falsas colunas gregas ou fotografam com os telemóveis as avestruzes ou a colónia de faisões da colecção do proprietário, alguns deles importados da Sumatra ou da Mongólia.
O passeio faz-se ao longo de muitos quilómetros, para contemplar o heliporto, o lago artificial, as cavalariças e a garagem onde está guardado um museu de veículos militares soviéticos.
“Mamã, onde estão as casas de banho em ouro?”, pergunta um rapaz de 5 anos à mãe, enquanto ela lhe mostra um salão de banquetes no interior de um falso galeão da época isabelina. “Também quero ter um navio de piratas como este”, pede o miúdo. A mãe responde-lhe: “Não te preocupes, já temos este.”
Alguns visitantes ainda têm bem presente na memória os violentos confrontos dos últimos dias que fizeram dezenas de mortos em Kiev e que transformaram o centro da cidade numa zona de guerra. “Isto reforça a impressão que a luta valeu a pena. Se as 100 pessoas que morreram pudessem ver isto, penso que diriam a mesma coisa”, diz Bogdan Pantchichin, um comerciante de Lviv (oeste).
Estupefactos com a opulência que acabaram de ver, os visitantes só podem especular sobre a amplitude da fortuna do Presidente destituído. “Esta casa, este jardim, este luxo…” repete Viktor Kovaltchuk,, um mecânico. “Aconteça o que acontecer, isto tem que ser devolvido ao povo. Foi construído com o nosso dinheiro, por isso tem que nos ser devolvido”.