China: morreu o último sobrevivente do Bando dos Quatro

Foto
Após a morte de Mao, Yao Wenyuan foi condenado a 20 anos de prisão AP/Xinhua

De acordo com um breve comunicado, Wenyuan, de 74 anos, morreu no passado dia 23 de Dezembro, vítima de complicações resultantes da diabetes. Não foi explicada a razão por que só agora foi noticiada a morte do antigo dirigente, preso no final da Revolução Cultural.

Este período – marcado por ferozes lutas de poder e a perseguição de todos os que se afastassem dos ideais mais estritos do comunismo – continua a ser um assunto sensível para a sociedade chinesa, em grande parte devido ao papel desempenhado por Mao Tse Tung, uma figura que continua a ser intocável, 30 anos após a sua morte.

O Bando dos Quatro - o mais radical dos protagonistas deste conturbado período da história chinesa - era liderado por Jiang Qing, terceira mulher do líder chinês, que se juntou a Yao Wenyua, responsável pela propaganda oficial, e a dois homens fortes de Xangai, Zhang Chunqiao e Wang Hongwen.

Com o apoio tácito de Mao, então já doente, o grupo liderou a ofensiva contra a ala mais moderada do regime, liderada pelo primeiro-ministro, Zhou Enlai, cuja grande influência sobre a máquina estatal nunca conseguiram pôr em causa, apesar das purgas sucessivas.

O país vivia então um período de terror, com a deportação de milhões de pessoas para campos de trabalho e a constante vigilância e repressão levada a cabo pelos guardas vermelhos – as milícias de jovens recrutados por Mao nos primeiros anos da revolução para garantir a pureza do regime, tornando-se num eficaz instrumento na luta pelo poder.

Em 1976, após a morte de Zhou Enlai e Mao Tse Tung, desaparecidos com meses de intervalo, a China foi palco de uma sangrenta luta entre facções, que acabaria com a subida ao poder de Deng Xiaoping (que nos anos seguintes abriria as portas do regime ao capitalismo e ao mundo) e a prisão dos elementos do Bando dos Quatro.

Em 1981, a mulher de Mao e Zhang Chunqiao foram condenados à pena capital, mas as suas penas foram comutadas para prisão perpétua, apesar de nunca terem mostrado arrependimento.

Dez anos depois, Jiang Qing - considerada a principal responsável pelas atrocidades cometidas durante a Revolução Cultural - enforcou-se na prisão, mas a imprensa não fez qualquer referência ao sucedido.

Em 1992, Wang Hongwen, o mais novo dos elementos do bando, condenado também a prisão perpétua, morreu de cancro no cárcere – destino igual ao de Zhang Chunqiao, em Abril do ano passado.

Yao Wenyua estava em liberdade desde 1996, após duas décadas de prisão.