Cérebro do 11 de Setembro aponta o caminho da felicidade aos juízes de Guantánamo

Khalid Sheikh Mohammed argumenta que os atentados terroristas foram uma resposta à "cruzada" dos EUA e não o resultado de "uma luta contra a democracia e a liberdade".

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Mohammed foi capturado em 2003 e está detido em Guantánamo Janet Hamlin/Reuters

Chama-se "Convite à felicidade" e é a primeira de três partes de um documento escrito pelo antigo operacional da rede terrorista Al-Qaeda Khalid Sheikh Mohammed, divulgado em conjunto pelo site The Huffington Post e pela estação britânica Channel 4.

Sete anos depois de ter confessado a autoria dos atentados contra o World Trade Center e o Pentágono e de dezenas de outros ataques um pouco por todo o mundo, incluindo a decapitação do jornalista norte-americano Daniel Pearl, Khalid Sheikh Mohammed afirma que "a verdade só pode ser alcançada através da sabedoria".

Capturado há 11 anos no Paquistão e detido há sete no campo de Guantánamo, Mohammed não mudou de opinião sobre os Estados Unidos, nem sobre aquilo que descreve como "a cruzada do Ocidente" – as 36 páginas do documento são mesmo endereçadas "aos cruzados das comissões militares de Guantánamo".

Em defesa do seu passado de violência, Khalid Sheikh Mohammed abre o documento com citações dos antigos Presidentes norte-americanos George W. Bush e Richard Nixon e do Papa Bento XVI, com a palavra "cruzada" e referências às ligações entre os EUA e Israel em grande destaque.

"O Governo americano gosta de tocar a música da democracia – direitos humanos, direitos das mulheres e liberdade – e o povo americano gosta de dançar ao som desta música para que a realidade continue escondida, enquanto o dinheiro público e os impostos continuam a ser retirados dos seus bolsos tão facilmente quanto possível. Tudo para permitir que o Governo financie as suas guerras, apoie os seus ditadores e gaste dinheiro nas suas bases espalhadas por todo o mundo; e que continue com a sua cruzada no mundo muçulmano", escreve Khalid Sheikh Mohammed.

Este "convite à felicidade" dirige-se "a todos os que foram designados para levar a cabo esta farsa de julgamento em Guantánamo": juiz, acusação, advogados e "todos os que trabalham com eles".

A segunda parte – ainda por publicar – será dedicada a defender os motivos dos atentados de 11 de Setembro de 2001, que fizeram 2996 mortos e mais de 6000 feridos. Em particular, Mohammed irá argumentar que os ataques contra o World Trade Center e o Pentágono não foram uma operação terrorista, mas sim "um acto de autodefesa legitimado por todas as Constituições e leis internacionais como um direito de quem vê as suas terras ocupadas e os seus povos atacados".

Por fim, o homem que, segundo as transcrições dos interrogatórios, disse ser o responsável pelo 11 de Setembro "de A a Z", irá publicar um documento a questionar "a chamada 'guerra contra o terrorismo'" e sobre "quem beneficia dela".

Para já, a primeira parte da argumentação de Khalid Sheikh Mohammed é totalmente dedicada a explicar que os atentados contra cidadãos e interesses norte-americanos não têm como objectivo converter o mundo ao islão.

"Não acreditem naqueles que dizem que os mujahedin combatem os infiéis para os converter ao islão ou que os combatemos porque vivem em democracia, em liberdade ou porque alegam defender os direitos humanos", escreve Mohammed. "A verdade", defende, é escondida pelos serviços secretos e pelos media: "Eles escondem os motivos que levaram os mujahedin a levar a cabo o 11 de Setembro e a verdade sobre a guerra contra o terrorismo."

Khalid Sheikh Mohammed foi capturado em 2003 no Paquistão. Nos três anos seguintes, terá sido levado para prisões secretas da CIA na Polónia e na Roménia, onde foi submetido a waterboarding – uma forma de extrair informação que as organizações de defesa dos direitos humanos classificam como tortura e a que os EUA se referem como "técnica de interrogatório musculada". Em 2006 foi transferido para Guantánamo, onde aguarda a conclusão do seu julgamento num tribunal militar, marcado por constantes adiamentos.

Para além do 11 de Setembro, Mohammed assumiu também a responsabilidade ou a participação em dezenas de outros ataques, como o atentado à bomba contra o World Trade Center em 1993; em planos para assassinar os antigos Presidentes norte-americanos Jimmy Carter e Bill Clinton, o actual Presidente paquistanês, Pervez Musharraf, e o Papa João Paulo II; e a decapitação do jornalista do Wall Street Journal Daniel Pearl, em 2002.
 
 

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