CDU e SPD de acordo para negociar coligação

A “grande coligação” entre os dois partidos mais votados nas eleições alemãs pode vir a ser uma realidade depois da reunião desta quinta-feira. Próximas semanas serão de negociação do acordo.

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Merkel, sorridente, à saída da reunião com o SPD Fabrizio Bensch/Reuters

“Faz sentido entrar em negociações para uma coligação”, anunciou o líder dos sociais-democratas, Sigmar Gabriel, após a reunião de pouco mais de uma hora. “Acreditamos que encontrámos uma base comum com a CDU”, acrescentou, citado pelo Der Spiegel.

Do lado do partido da chanceler Angela Merkel, o secretário-geral, Hermann Gröhe, considerou que as reuniões com o SPD mostraram que “se pode desenvolver um campo comum de forma a governar o país com sucesso durante os próximos quatro anos”.

Os dois partidos devem voltar a reunir-se na próxima quarta-feira para as primeiras negociações formais. O anúncio vem ao encontro dos desejos de Merkel, que havia dito que queria saber com que iria negociar formalmente o próximo Governo até à primeira sessão do Bundestag, a 22 de Outubro.

As bases para o acordo foram, segundo a imprensa germânica, a possível introdução de um salário mínimo nacional, desejado pelo SPD, e a promessa de não subir impostos, prioridade dos conservadores. Horas antes da reunião, o líder da CSU, Horst Seehofer, havia mostrado abertura em relação à criação de um salário mínimo, desde que este não provocasse um impacto negativo para o emprego, numa entrevista ao Süddeutsche Zeitung.

Salário mínimo “desempatou”
Um dos pilares programáticos do SPD durante a campanha eleitoral foi a defesa de um salário mínimo de 8,50 euros por hora e esse foi sempre um assunto trazido ao de cima nos encontros com a CDU. Um relatório semestral encomendado pelo Governo alemão, em que participam instituições financeiras, revelado esta quarta-feira, sustenta que “um salário mínimo aplicado a todos os sectores e regiões teria significativamente mais consequências negativas para o mercado laboral do que os acordos sectoriais actuais”.

O instituto DIW, que também participou no estudo, alertou no mês passado, de acordo com a Reuters, que “a introdução abrupta de um salário mínimo de 8,50 euros por hora não é aconselhável, uma vez que os impactos em alguns segmentos do mercado seriam incalculáveis”. A sugestão é a de “introduzir um [salário mínimo] a um nível significativamente mais baixo, como no Reino Unido, para cuidadosamente observar o seu impacto e ajustar o nível progressivamente se necessário”.

As declarações de Seehofer e a publicação do relatório, ambas antes da reunião entre os dois partidos, sugerem que poderá haver um acordo sobre a introdução de um salário mínimo, mas abaixo dos 8,50 euros. Este cenário não seria descartado totalmente pelo SPD, tal como Hermann Gröhe deixou no ar após a reunião, ao dizer que “há um objectivo comum para um acordo sensato quanto ao salário mínimo”.

A distribuição dos ministérios foi também já discutida. A grande questão era a permanência do todo-poderoso ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble. Era pretensão dos sociais-democratas obter a pasta, importantíssima no contexto da crise europeia, mas, de acordo com o El País, Schäuble deverá continuar, ficando o ministério do Trabalho para o SPD.

Se o encontro desta quinta-feira dá indícios claros de que a “grande coligação” - desejada pela maioria dos alemães, de acordo com as últimas sondagens – pode muito bem ser realidade, a última palavra está dependente dos 450 mil militantes do SPD. O partido prometeu, após as eleições de 22 de Setembro, levar um possível acordo de coligação a referendo interno, numa tentativa de apaziguar as divisões entre os sociais-democratas.
 
 
 

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