Republicanos receberam dinheiro de supremacista branco que inspirou Dylann Roof

Ted Cruz quer desvincular-se do grupo que pode ter inspirado o atirador de Charleston. Outros dois candidatos receberam dinheiro do presidente de grupo racista.

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O assassino de Charleston defende a supremacia branca BRENDAN SMIALOWSKI/AFP

De acordo com o jornal The Guardian (que deu a notícia) e The New York Times (que desenvolveu a investigação), Earl Holt III, que se apresenta como presidente do Conselho dos Cidadãos Conservadores (CCC), doou dezenas de milhares de dólares às campanhas dos republicanos Cruz, Rick Santorum e Rand Paul.

Não foi a primeira vez que Holt fez doações para campanhas do Partido Republicano, já doou dinheiro a candidatos ao Senado e ao Congresso no Arizona, no Ohio, no Minesota, em Iowa e no Missouri. 

Ao Guardian, e por email, um elemento da equipa de Cruz respondeu: “Só soubemos esta noite [domingo] que Holt tinha contribuído. Vamos devolver o dinheiro [8500 dólares] imediatamente”. Da campanha de Paul responderam que vão dar o dinheiro de Holt, 1750 dólares, a uma instituição de apoio às famílas dos que morreram em Charleston. Matthew Beynon, porta-voz de Santorum (1500 dólares), enviou um email a dizer que o senador não “apoia” comentários de teor racista e que a sua campanha se centra “na união da América, não na divisão”.

 

  

 

Na quarta-feira à noite (já quinta em Portugal), Dylann Roof, de 21 anos, entrou numa igreja de uma congregação negra de Charleston (Carolina do Sul, EUA), e matou nove pessoas. "Vocês violam as nossas mulheres e estão a tomar conta do país", foram as declarações racistas e sexistas que fez antes de disparar. Aos amigos tinha dito que queria começar uma guerra racial.

Após o crime, o FBI (a polícia federal), encontrou um site com um manifesto racista e está a investigar se foi escrito pelo assassino. "Escolhi Charleston — lê-se no texto — porque é a cidade mais histórica do meu estado, e porque a certa altura tinha a maior proporção de negros para brancos do país. Não temos skinheads, não temos um verdadeiro KKK, ninguém que faça seja o que for além de falar na Internet. Bem, alguém tem de ter a coragem de fazer alguma coisa no mundo real, e acho que terei de ser eu".

A dada altura, no texto que se chama The Last Rodhesian — a Rodésia era o nome de um país africano de regime racista; chama-se agora Zimbabwe —, o autor diz que percebeu que os "negros assassinam brutalmente os brancos". Esta frase abriu outro campo de investigação às influências (ou às ligações) de Roof, uma vez que é uma frase-assinatura do CCC, que é considerado um grupo que propaga a ideologia da supremacia branca.

Num depoimento que publicou online, Holt, o presidente do grupo, diz não se espantar por ter sido no Conselho dos Cidadãos Conservadores que Dylann Roof tomou conhecimento dos "crimes violentos dos negros em relação aos brancos" uma vez que o CCC é "um dos poucos com coragem" para divulgar "os infindáveis acidentes que resultam no assassínio de brancos por negros". Porém, disse, o CCC não pode ser responsabilizado pelo que aconteceu em Charleston.

As frases que Roof disse antes de disparar também são semelhantes às que constam dos estatutos do CCC, que recusa ser definido como um grupo de supremacia branca mas que assim é classificada pelo Southern Poverty Law Center (que denuncia crimes de ódio nos Estados Unidos) e que diz tratar-se de um grupo "extremista" que classifica os negros como uma "raça inferior". Num comunicado emitido após surgiram as primeiras notícias sobre uma possível ligação entre Roof e o CCC, outro representante deste grupo emitiu um comunicado a desvincular a organização do crime mas a dizer que há "legimidade em algumas posições expressas" pelo atirador, que confessou ser o autor dos crimes.

No manifesto do grupo está escrito: "os negros violam as nossas mulheres", "os negros estão a tomar conta do país", "os negros são os verdadeiros racistas" e "os negros têm que desaparecer". E nos seus estatutos o CCC define-se como uma organização que se "opõe a todos os esforços que forem feitos para misturar as raças da humanidade, para promover raças não brancas e para promover a integração racial".
 

   


 



 

 

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