Campanha de SMS destinada a potenciais imigrantes ilegais causa polémica no Reino Unido
Primeiro-ministro, David Cameron, diz que concorda com o princípio de enviar mensagens, apesar de algumas terem ido parar a pessoas erradas.
A alteração ocorreu a meio de uma campanha levada a cabo pelo Ministério do Interior britânico que causou polémica por várias razões – uma delas foi o facto de alguns dos destinatários terem passaporte britânico há décadas.
Duas pessoas em particular vieram a público queixar-se – o activista Suresh Grover e o advogado de imigração Bobby Chan. “Cheguei aqui com os meus pais em 1966, nasci na África Oriental, e sempre tive passaporte britânico”, disse Grover ao diário The Independent. “Fiquei chocado, pensei que não era para mim.”
Grover contactou o número de telefone que aparecia na mensagem e foi informado de que não havia erro nenhum: ele era mesmo o destinatário da mensagem. A pessoa que o atendeu pediu-lhe informação pessoal e não respondeu à pergunta sobre como tinha obtido o seu contacto, relatou o activista, que fundou uma organização anti-racismo chamada The Monitor Group. “Acho que é incrível enviarem-se mensagens aleatórias sem se saber a quem”, comentou ao Independent. “Fiquei zangado, mas também confuso, por causa do trabalho que faço”, disse ainda. “Mas acho que quem não trabalhe nesta área pode levar estas mensagens a sério e achar mesmo que não tem o direito de viver no Reino Unido. É horrível”, comentou.
Bobby Chan, a viver no Reino Unido desde 1973, recebeu uma mensagem semelhante, e ficou igualmente surpreendido, mas teve uma reacção diferente: “Inicialmente, até achei engraçado”, conta. “Mas se um chinês mais velho tivesse recebido esta mensagem, teria ficado muito preocupado. A Capita [a empresa que está a gerir o envio de SMS] disse-me que eu recebi a mensagem porque fiz um pedido recente ao Ministério do Interior, mas devem ter passado 30 anos desde que fiz o último e nessa altura não tinha um telemóvel”. Este tipo de acções, considerou, “estereotipa os imigrantes como uma comunidade criminosa e cria uma atmosfera de medo”, considerou.
Chan anunciou que pretende apresentar uma queixa formal e questionar o Governo sobre a empresa Capita e o tipo de contrato.
Ministério diz que Grover não foi contactado
Tanto a Capita como o Governo dizem que o número de pessoas contactadas erradamente é mínimo. "Entre 58.800 pessoas contactadas, recebemos 143 reclamações, das quais 14, um número infinitesimal, foram aceites como legítimas pela Capita", disse a empresa.
O Ministério do Interior recusa que Grover tenha sido contacto, disse a BBC. Os advogados de Grover vão agora desafiar a tutela a provar o que diz, disse o activista à BBC.
O Ministério do Interior defende a acção: “Estamos a dar passos pró-activos para contactar indivíduos cujos registos mostram que não têm direito válido de estar no Reino Unido.”
Esta foi a segunda medida anti-imigração que provocou polémica no Reino Unido. A primeira passou-se em Londres, em ruas de zonas de grande imigração, com carrinhas dizendo a imigrantes ilegais para “irem para casa ou ficarem sujeitos a prisão”. Entretanto, o secretário de Estado da Imigração, Mark Harper, disse à BBC que o Governo estava a analisar os resultados da campanha e que esta poderia ser aplicada em todo o país.