O Boeing 777 da Malaysia Airlines mudou de rota ou essa é só mais uma teoria?
Ainda não há rasto do avião desaparecido. Hipótese terrorista perde terreno mas CIA não a descarta. Os dois passageiros que viajavam com passaportes roubados tencionariam emigrar para a Europa.
O aparelho “mudou a rota depois de Kota Bharu e passou a voar a mais baixa altitude. Fê-lo pelo estreito de Malaca”, disse à Reuters um alto responsável militar que está a par das investigações ao que já é um dos mais misteriosos desaparecimentos da história da aviação.
Citado pela agência, o jornal malaio Berita Harian noticiou que o avião, que seguia de Kuala Lumpur para Pequim, foi detectado por um radar militar perto da ilha de Pulau Perak, no extremo norte do Estreito de Malaca. Voava mil metros abaixo da altitude registada no último contacto com a torre de controlo civil. Nesse contacto, o aparelho estava sensivelmente a meio caminho entre a cidade de Kota Bharu, na costa oriental da Malásia, e o extremo sul do Vietname, e voava a 10.670 metros de altitude.
A confirmar-se a informação militar, significaria que o avião teria voado pelo menos cerca de 500 quilómetros depois do último contacto que manteve com a torre de controlo. Mas outra fonte ligada às investigações, não-militar, disse que se trata apenas de uma das várias teorias que têm sido testadas nos quatro dias de buscas e investigações.
A hipótese de terrorismo – admitida depois de ter sido descoberto que dois passageiros viajavam com passaportes falsos – perdeu força, ainda que não tenha sido descartada. “Nas últimas 24 horas vimos a história mudar à medida que ficamos mais certos de que estes indivíduos não eram, provavelmente, terroristas”, disse Ronald Noble, secretário-geral da Interpol.
A Polícia tailandesa também desvalorizou a teoria de que os dois iranianos que viajavam com passaportes roubados, Pouri Nour Mohammadi, 19 anos, e Delavar Syed Mohammad Reza, 29, pudessem estar ligados ao desaparecimento do avião. “Não excluímos nada, mas o peso das provas vai contra a ideia de que estes homens estão ou estiveram envolvidos em terrorismo”, disse à Reuters Supachai Puikaewcome, um responsável da polícia malaia. Os jovens pretenderiam apenas emigrar para a Europa, onde quereriam chegar via Pequim. O mais velho pretenderia pedir asilo na Suécia, segundo a polícia do país europeu.
Em sentido contrário, relançando a hipótese terrorista, se pronunciou John Brennan, o director da CIA, os serviços secretos dos EUA. “Não, eu não a descartaria”, disse, em Washington.
Telemóveis de passageiros a tocar
Um dado adiantado por familiares de passageiros juntou-se à escassa informação sobre o cada vez mais intrigante mistério do voo MH370: familiares contaram que havia ainda telemóveis a tocar. Um responsável da Malaysian Arlines também terá tentado ligar para telefones dos membros da tripulação, ouvindo sinal de chamada, segundo o Washington Post. Amigos ou colegas de outros passageiros viram ainda que o sinal da presença na conta de mensagens instantâneas QQ estava ainda activo e online. Num dos casos, no entanto, a meio da tarde de segunda-feira, o utilizador deixou de estar online.
Identificar a localização de um telemóvel ligado não é necessariamente tarefa fácil e depende de como o operador tiver montado a infra-estrutura, explicou ao PÚBLICO o director de investigação e desenvolvimento do Sapo, Benjamin Mendes Júnior. As redes de telecomunicações são compostas por várias células e “o operador sabe a que célula o telemóvel está ligado” num dado momento. Mas o problema é que, em função das características técnicas e do local, o raio de alcance destas células pode chegar às poucas centenas de quilómetros. Também é teoricamente possível que um telemóvel toque e esteja desligado, nota ainda Mendes Júnior. Isso acontecerá nos casos, pouco frequentes, em que o utilizador tenha pedido ao operador para que as suas chamadas sejam reencaminhadas para outro número.
As autoridades da Malásia disseram que estão agora a investigar um a um os 12 tripulantes e 227 passageiros. “Estamos a investigar quatro áreas. Um, desvio, dois, sabotagem, três, problemas psicológicos entre passageiros e tripulação e, quatro, problemas pessoais entre passageiros e tripulação”, enumerou o chefe da polícia da Malásia, Khalid Abu Bakar.
O dado mais concreto desta terça-feira sobre uma investigação que, apesar dos enormes meios envolvidos, está sempre a esbarrar em becos sem saída e pistas que afinal não levavam a lado nenhum foi a nota de imprensa da Malaysian Airlines: “Quando entramos no quarto dia, o avião ainda não foi encontrado”, dizia. A empresa confirmou o alargamento da área da operação de busca no mar e também em terra – o Exército vietnamita está a explorar zonas remotas de selva. “Não estamos a excluir nenhuma possibilidade”, insistiu a transportadora. Dez países estão a participar na operação de busca com dezenas de navios, aviões e helicópteros.
Com João Pedro Pereira