Bélgica restabelece controlos de fronteira com receio dos migrantes de Calais

A decisão de evacuar a zona sul da "Selva" de Calais foi adiada pelas autoridades francesas. Apesar disso, a Bélgica decidiu suspender temporariamente Schengen.

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A polícia belga já fez algumas detenções de migrantes Francois Lenoir/Reuters

A Bélgica anunciou que vai restabelecer o controlo da sua fronteira com a França, apesar de as autoridades francesas terem suspendido a decisão – que tinha como data-limite o dia de terça-feira – de evacuar parte da “Selva” de Calais. O veredicto foi dado pelo tribunal administrativo de Lille, estando prevista uma nova decisão nesta quarta ou quinta-feira.

“Informámos a Comissão Europeia de que vamos suspender temporariamente Schengen”, disse o ministro do Interior belga, Jan Jambon, citado pela AFP, numa conferência de imprensa em Bruxelas. Na origem desta decisão está o receio por parte das autoridades belgas de que um fluxo de migrantes oriundo da "Selva" de Calais – campo situado a quinze quilómetros da entrada francesa para o canal da Mancha – se possa dirigir para o grande porto belga de Zeebrugge, local de onde partem embarcações para o Reino Unido.

Apesar de a decisão de evacuar o campo de Calais ter sido suspensa, o ministro belga afirma que o movimento de refugiados já está em curso, sendo que as autoridades belgas já procederam a algumas detenções. "Prendemos 32 pessoas em Adinkerke [cidade no lado belga da fronteira]", afirmou Jambon à AFP. "Queremos evitar a todo o custo campos como o de Calais na Bélgica. É uma questão de aplicar a lei", sublinhou o ministro do Interior belga. O controlo da fronteira começou na segunda-feira e entre 250 e 290 polícias serão destacados ao longo da fronteira.

A Bélgica torna-se assim o sétimo país do espaço Schengen a reintroduzir controlos temporários nas suas fronteiras, juntando-se à Dinamarca, Noruega, Suécia, Áustria, Alemanha e França. 

Construído perto do maior porto de Calais, no Norte de França, a "Selva" alberga cerca de 3700 refugiados, segundo números das autoridades francesas. Contudo, organizações não governamentais que prestam apoio no campo afirmam que a população real corresponde a cerca de 5500 pessoas. A maioria das pessoas do campo e oriunda da Síria, Afeganistão, Iraque, Eritreia, Sudão e Etiópia. Grande parte destes refugiados tem como objectivo chegar a Inglaterra, onde muitos deles têm familiares. 

A decisão de evacuar a zona sul do campo de Calais tem sido alvo de denúncias por parte de organizações de defesa dos direitos humanos. Os próprios números dos refugiados afectados por esta decisão estão envoltos em polémica. As autoridades francesas consideram que existem entre 800 e mil refugiados nesta zona do campo, contudo, organizações não governamentais contabilizam cerca de 3450 pessoas, incluindo 300 crianças desacompanhadas, números da organização britânica Help Refuges.

Apesar de provisória, a decisão do tribunal administrativo de Lille  em adiar a evacuação de  parte da "Selva" de Calais agradou às organizações não governamentais que têm prestado apoio ao campo. "São boas notícias. O campo não pode ser destruído até que verdadeiras soluções sejam encontradas para as pessoas que lá vivem, incluindo regimes de protecção adequados para as crianças. Demolir a 'Selva' em Calais só vai gerar muitas 'selvas' pequenas ao longo da costa", afirmou Maya Konforti, voluntária da organização francesa L´Auberge des Migrants, ao jornal britânico The Guardian.

Texto editado por Joana Amado

 
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