Barack Obama ainda é "cool". Mas será que os jovens vão votar nele?

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Na última semana Obama visitou três universidades em estados onde venceu em 2008, mas cuja votação em 2012 é uma incógnita Foto: Sara D. Davis/AFP

Obama é cool. Ele sabe cantar ("I-I-I-I-I-I"m... so in love with you"). Ele vai levar dois apoiantes a um jantar em casa de George Clooney no próximo mês (a sua equipa vai realizar um sorteio entre as pessoas que doarem pelo menos três dólares para a sua campanha de reeleição). Ele está na capa da Rolling Stone. Ele sabe falar aos miúdos na linguagem que eles melhor entendem: humor.

Esta semana, Obama foi o convidado de um programa de comédia popular entre os jovens, Late Night With Jimmy Fallon. O Presidente americano não se limitou a sentar-se no sofá e falar. Ele falou para as câmaras com música soul em fundo e com o apresentador a imitar Barry White. Foi a combinação perfeita de algo sério com algo ridículo. O programa teve uma audiência-recorde. A rábula propagou-se pela Internet nos últimos dias (mais de três milhões de visionamentos no YouTube, e a contagem continua).

A conservadora Fox News ponderou se o Presidente devia participar em programas de comédia. É algo que minimiza o cargo, disseram. "O Harry Truman nunca faria aquilo", declarou Bill O"Reilly, uma das estrelas da Fox. É verdade que teve de recuar até à década de 1940.

O principal problema para a Fox e para os republicanos, claro, é que o seu candidato não é cool. Mitt Romney? Ele faz a série Mad Men parecer moderna. O Partido Republicano reagiu com um anúncio contrastando os dois líderes: Obama no programa de Jimmy Fallon sob os gritos do público versus Romney fazendo um discurso sério num púlpito sobre como os americanos estão "cansados de estar cansados". Um outro anúncio, do Super PAC de Karl Rove, American Crossroads, recupera o argumento de que Obama é uma celebridade, usado pela campanha de John McCain em 2008. "Ao fim de quatro anos com um presidente-celebridade, a sua vida está melhor?", pergunta o anúncio.

Para além da sua participação no programa de Jimmy Fallon, na última semana Obama visitou três universidades em estados onde venceu em 2008, mas cuja votação em 2012 é uma incógnita. São os swing states como a Carolina do Norte ou o Colorado que vão ser decisivos em Novembro porque vão fazer a diferença entre a América vermelha (republicana) e a América azul (democrata).

Obama está a tentar mobilizar o importante bloco dos jovens eleitores que foram cruciais para a sua eleição há quatro anos. Em 2008, a proporção de jovens (dos 18 aos 29 anos) que votaram em Obama comparada com os que votaram em McCain foi de 2 para 1. As sondagens mostram que Obama é de longe o favorito entre o mesmo grupo este ano: 64%, contra 29% que preferem Romney, segundo uma nova sondagem da Gallup. Escrevendo sobre a visita de Obama à Universidade do Colorado, o New York Times notou que, "por alguns momentos", a reacção "exuberante" dos estudantes fez lembrar 2008.

O desafio, para Obama, é levá-los às urnas. Apenas 56% dizem que vão votar em Novembro. A sua campanha está empenhada em registar o máximo de jovens que eram demasiado novos em 2008, mas atingiram a idade de voto desde então - desses 15 milhões, apenas seis milhões estão registados nos cadernos eleitorais, segundo o New York Times.

As dívidas dos estudantes

A mensagem que o Presidente americano levou às universidades e ao programa de Jimmy Fallon é que o Congresso deve impedir as taxas de juro dos empréstimos aos estudantes de subirem em Julho, como está previsto. Os juros sobre estes empréstimos, que são feitos pelo Governo aos estudantes para pagarem as propinas elevadas praticadas pelas universidades americanas, foram reduzidos em 2007 para 3,4% e deverão voltar à taxa anterior de 6,8% este Verão, se o Congresso não tomar medidas. Na prática, isso significa mais mil dólares de dívida por ano numa altura em que o desemprego entre recém-licenciados é muito alto.

De acordo com a Casa Branca, cada estudante tem, em média, uma dívida de 25 mil dólares e a tendência é para crescer. Para muitos recém-licenciados, essa dívida representa um fardo nos primeiros anos de vida activa.

Obama, que recentemente foi notícia com o seu comentário de que "não nasceu em berço de ouro" - uma referência indirecta à educação privilegiada do seu rival Mitt Romney -, disse aos estudantes da Universidade da Carolina do Norte que ele e a mulher tinham estado na mesma posição e só conseguiram pagar os seus empréstimos universitários por inteiro há oito anos. "Nós não vimos de famílias ricas. Quando nos licenciámos, tínhamos uma montanha de dívida. Quando casámos, éramos dois pobres", disse.

Segundo o Federal Bank Reserve of New York, 37 milhões de americanos estão altamente endividados devido aos empréstimos universitários. O total atingiu a barreira do bilião de dólares (ou 12 zeros...), mais do que a dívida relacionada com os cartões de crédito. Agencias de rating como a Moody"s e a S&P avisaram recentemente que o endividamento universitário pode ser a próxima crise a sacudir a economia americana: com 54% de desemprego ou subemprego (gente altamente qualificada a trabalhar em empregos de baixa remuneração) entre os licenciados com menos de 25 anos, as perspectivas de os jovens algum dia pagarem essas dívidas são cada vez menores.

Romney anunciou esta semana que também é a favor da continuação de uma taxa de juro baixa. Sem música soul em fundo.

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