Armas de fogo sem controlo são um terror, diz Stephen King

A oposição total ao controlo das armas nos EUA não é defesa da Constituição, diz o escritor de livros de terror

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Stephen King disponibilizou o seu ensaio através do Kindle da Amazon Mario Tama/AFP

O escritor de terror Stephen King não se poupa a requintes na forma como as personagens dos seus livros morrem e tem três armas em casa. Mas escreveu um ensaio violento de 25 páginas a favor do controlo das armas nos Estados Unidos.

“Armas automáticas e semi-automáticas são armas de destruição maciça. Quando os lunáticos querem fazer guerra contra pessoas desarmadas e desprevenidas, usam estas armas”, escreveu no texto vendido a 99 cêntimos de dólar no Kindle, o leitor de livros electrónicos da Amazon.

King, um dos autores que mais vende no mundo, acabou de escrever o ensaio na sexta-feira, e queria publicá-lo o mais rapidamente possível. A solução foi disponibilizá-lo como um single do Kindle, um formato para textos pequenos demais para serem um livro mas demasiado grandes para serem um artigo.

O autor queria intervir no debate sobre o oceano de armas que há nos Estados Unidos, sem que ninguém saiba quantas são, nem controle a quantidade de munições que cada pessoa pode comprar. Os esforços para conter essa vastidão de armas e munições prometidos por Barack Obama após as mortes na escola Sandy Hook passam por começar a controlar quem compra armas e a limitar as munições a que têm acesso, e a verificar o seu registo criminal e de saúde mental. O vice-presidente Joe Biden, a quem Obama entregou este dossier, tem agora a árdua tarefa de conquistar uma maioria que apoie estas reformas no Congreso.

King, com o humor de traço negro e o uso do vernáculo que lhe é característico, não poupa o lobby da National Riffle Association, que há anos defende o uso sem restrições de armas de fogo, e que após o massacre de Sandy Hook propôs que passasse a haver guardas armados nas escolas.

A oposição total ao controlo das armas de fogo não pode continuar a ser vista apenas como a defesa da Segunda Emenda da Constituição americana, disse. É mais “um desejo teimoso de se agarrar ao que têm garantido, e para o diabo com os danos colaterais”. E acrescenta: “Permitam-me sugerir que ‘vai-te lixar, Jack, eu cá estou bem’ não é uma posição moralmente defensável”.
Wayne LaPierre, o dirigente da National Riffle Association conhecido pelas tiradas bombásticas em defesa das armas, usou uma frase do discurso de tomada de posse do segundo mandato de Barack Obama — que não falou de armas — para acusar o Governo federal de querer tirar as armas aos cidadãos. Pegando nas palavras “não podemos usar o absolutismo como princípio”, LaPierre acusou Obama de querer descartar a Constituição, que garante o porte de armas: “Quando os absolutos são abandonados em troca de princípios, a Constituição dos EUA torna-se um quadro em branco para qualquer pessoa fazer graffiti”.

LaPierre prepara-se para dar luta à Administração Obama na intenção de criar um registo federal com o nome de todos os proprietários de armas de fogo — algo que a National Riffle Association e os seus aliados no Congresso têm travado há anos, com argumentos por vezes delirantes. Por exemplo, o de que os nazis também fizeram listas para tirarem propriedades às pessoas, relata no site da CNN Richard Davis, secretário do Tesouro Adjunto de James Carter, numa altura em que Washington tentou fazer uma lista dessas (sem sucesso).

Stephen King reconhece a paranóia de muitos dos proprietários de armas: “Estes rapazes e raparigas acreditam mesmo que após o desarmamento vai haver uma ditadura, com tanques nas ruas de Topeka”. Mas ninguém lhes quer tirar as caçadeiras e pistolas, desde que não tenham mais de 10 munições. “Se não conseguir matar um intruso (ou a sua mulher, quando se levantar a meio da noite para ir comer) com dez tiros, é melhor voltar ao campo de tiro para praticar.”
 
 
 

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