Tsipras acusa Portugal e Espanha de quererem derrubar o Governo do Syriza

Primeiro-ministro grego responde a Passos Coelho na primeira reunião do comité central do Syriza: "O plano era e continua a ser o de provocar desgaste e derrubar o nosso Governo", acusou.

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Tsipras acusou Portugal e Espanha de conspiração para derrubar o Governo do Syriza AFP/Angelos Tzortzinis

“Encontramo-nos numa situação em que um eixo de poderes, liderado pelos Governos de Espanha e Portugal, tentaram conduzir as negociações para o abismo, por motivos políticos óbvios”, contou Tsipras ao comité central do Syriza, que reuniu este sábado pela primeira vez desde a vitória eleitoral de 25 de Janeiro e a formação de Governo.

Relatando as negociações em que o país se viu envolvido em Bruxelas, com o Europgrupo e com o Conselho Europeu, Alexis Tsipras aludiu à oposição das forças conservadoras europeias, com Portugal e Espanha à cabeça, e as suas tentativas para “minar” um acordo entre os gregos e os seus parceiros, “assumindo o risco de uma evolução descontrolada” por razões tácticas que têm a ver com a conjuntura eleitoral interna.

“O plano era – e continua a ser – o de provocar desgaste e derrubar o nosso Governo ou forçar-nos a uma rendição incondicional, antes que o nosso trabalho começasse a dar fruto e antes que o nosso exemplo afectasse outros países”, interpretou Tsipras, acrescentando que a preocupação imediata dos aliados ibéricos era o impacto que um compromisso positivo para a Grécia poderia ter nas eleições espanholas, marcadas para Novembro. As sondagens sobre as intenções de voto em Espanha atribuem, para já, o favoritismo ao partido anti-austeridade Podemos.

Tsipras defendeu o compromisso alcançado pelo seu Governo em Bruxelas, e para contrariar as críticas da facção mais à esquerda do seu movimento referiu o ataque que a chanceler alemã, Angela Merkel, sofreu quando levou o acordo com a Grécia à apreciação do parlamento germânico. “Basta ouvir as críticas dos deputados alemães, que se queixaram das concessões inaceitáveis que foram feitas aos gregos”, observou.

Mas apesar de a Alemanha ainda ser vista como a principal “inimiga” da Grécia pela sua defesa intransigente das políticas de austeridade, o primeiro-ministro confirmou que no processo negocial os principais entraves foram colocados por Portugal e Espanha – Tsipras referiu-se à posição conjunta de Lisboa e Madrid, supostamente com o respaldo do Partido Popular Europeu, como uma “conspiração” para derrubar o seu Governo.

As palavras do chefe do Governo grego podem ser interpretadas como uma espécie de réplica ao desmentido de Pedro Passos Coelho, que numa entrevista publicada este sábado pelo semanário Expresso, voltou a refutar a ideia de “hostilidade” com a Grécia e devolveu a acusação a Tsipras: “Pode existir uma intenção política de criar esta ideia, mas não é verdade”, afirmou o primeiro-ministro português.
 
PSD diz que Tsipras mente
Os dois maiores partidos portugueses reagiram rapidamente às declarações de Alexis Tsipras em Atenas, com o PSD a carregar na crítica ao primeiro-ministro grego em defesa de Passos Coelho e o PS a contestar a submissão do Governo português à linha definida pela Alemanha.

Recordando que Pedro Passos Coelho negou categoricamente que Portugal tenha sido mais duro com a Grécia do que os restantes parceiros do Eurogrupo, o porta-voz dos sociais-democratas, Marco António, lamentou que Alexis Tsipras tenha sentido necessidade de “inventar histórias e bodes expiatórios” e “arranjar desculpas envolvendo terceiros” de forma a iludir “a conturbação e as dificuldades internas do Syriza”.

“Está na hora de os responsáveis assumirem as suas próprias responsabilidades e não continuarem a sacudir a água do capote e enjeitar as responsabilidades que são próprias das suas decisões”, frisou o vice-presidente do PSD, à entrada da sessão de encerramento das jornadas do PSD e do CDS sobre investimento, no Porto.

Pelo seu lado, o presidente do PS, Carlos César, lamentou que o Governo português não tenha sabido aproveitar a abertura negocial no Eurogrupo para resolver a questão grega, continuando a alinhar com a “política conservadora liderada na Europa pela administração alemã”.

Para Carlos César, “a posição portuguesa devia ser a de procurar que, no contexto europeu, se criassem condições para um reforço da unidade e da coesão económica e social”. O socialista criticou a postura negocial do Governo, que nas suas palavras “se colocou numa posição de amanuense em relação à administração alemã”, em vez de defender uma “posição intermédia que favoreça a criação de novas regras comuns” que beneficiem países na situação de Portugal.

Espanha pede "reformas e não declarações"
O outro Governo visado por Tsipras também não demorou a reagir. Os problemas da Grécia resolvem-se com reformas e não com declarações”, disse Íñigo Méndez de Vigo, secretário de Estado para a União Europeia espanhol.

“Espanha não é adversária de nada, antes pelo contrário: é solidária com o povo grego como já demonstrou, assumindo o compromisso de 26.000 milhões euros num momento muito difícil para a economia do nosso país em plena recessão", acrescentou o secretário de Estado espanhol, em declarações à Efe.

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