Alemanha cancela acordo de espionagem com EUA e Reino Unido

Fim do pacto, assinado na década de 1960, é visto com uma medida para acalmar debate sobre espionagem no país.

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Os alemães debatem a privacidade online a poucas semanas das eleições Thomas Peter/Reuters

De acordo com os documentos obtidos pelo analista informático Edward Snowden, a Alemanha é um dos países de maior interesse para os serviços de espionagem dos Estados Unidos, principalmente depois de se ter descoberto que vários responsáveis pelos atentados de 11 de Setembro de 2001 viveram no país.

As revelações sobre uma alegada cumplicidade entre as secretas alemãs e a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla original) levaram a espionagem para o centro do debate político do país, a poucas semanas das eleições, marcadas para o dia 22 de Setembro. Para a oposição, o Governo de Angela Merkel é responsável por uma de duas situações: ou permitiu a colaboração dos seus serviços de espionagem com a NSA, ou não tem controlo efectivo sobre o que se passa nas secretas.

Foi no meio deste clima que o Governo alemão anunciou, na sexta-feira, o fim de um acordo com os Estados Unidos e o Reino Unido, assinado na década de 1960, que autorizava Washington e Londres a realizarem operações de espionagem com vista à protecção dos seus militares estacionados no país.

"O cancelamento dos acordos administrativos, que procurámos nas últimas semanas, é uma consequência apropriada e necessária do recente debate sobre a protecção da privacidade pessoal", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, citado pela Associated Press.

Apesar do secretismo que envolveu este pacto durante décadas – a sua existência só foi revelada em Julho deste ano, na sequência da polémica sobre os programas de espionagem norte-americanos –, o anúncio do Governo alemão não terá impacto nas relações com os Estados Unidos e com o Reino Unido, já que o acordo não era usado desde 1990.

Em declarações à Associated Press, uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, citada sob anonimato, descreveu o acordo como "um capítulo aberto de uma era antiga, que fazia sentido encerrar". A agência noticiosa contactou a porta-voz da embaixada dos Estados Unidos em Berlim, Ruth Bennett, que se limitou a confirmar o cancelamento do acordo.

O especialista em segurança Henning Riecke, do Conselho Alemão de Relações Internacionais (um think tank com sede em Berlim), considera que a decisão do Governo de Angela Merkel é, acima de tudo, um sinal interno: "O Governo tem de fazer alguma coisa para mostrar aos eleitores que está a levar este assunto a sério", disse Riecke à Associated Press. "Pôr fim a um acordo assinado numa era anterior ao aparecimento da Internet dá aos alemães a oportunidade de mostrar que estão a fazer alguma coisa. Ao mesmo tempo, os americanos sabem que não vão ser prejudicados. Em face das boas relações entre os serviços de espionagem, eles vão obter as informações de que precisam", disse o especialista em segurança.
 

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