Acordo de tréguas em Gaza não durou nem meio dia
Governo de Telavive responsabiliza o Hamas pela expansão da ofensiva. ONU alerta para situação de emergência da população palestiniana, e Israel lamenta a primeira vítima dos rockets disparados de Gaza.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu responsabilizou inteiramente o grupo militante islamista pelo prolongamento – e recrudescimento – do conflito, que dura há oito dias e já fez cerca de 200 mortos em Gaza. Um cidadão israelita morreu esta terça-feira com ferimentos graves provocados pelos estilhaços da explosão de um rocket do Hamas junto à fronteira de Erez: trata-se da primeira vítima mortal do lado de Israel.
Durante a manhã desta terça-feira, o Governo de Telavive anunciou a sua intenção de aceitar a proposta apresentada pelo Egipto para um cessar-fogo incondicional e o arranque de negociações com vista à reabertura de corredores de assistência. “A rejeição do acordo pelo Hamas dá a Israel total legitimidade para expandir a operação de protecção da população [em curso]”, frisou Netanyahu.
O Hamas respondeu a várias vozes, e no sentido oposto, à iniciativa egípcia. No Cairo, o representante do movimento islamista Moussa Abu Marzouk disse que apesar de não haver uma resposta formal, a liderança política via com bons olhos um acordo que contemplasse o relaxamento das restrições fronteiriças ao enclave. Em Gaza, o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, notou que o fim das hostilidades dependia do cumprimento de outras exigências, nomeadamente da libertação de activistas detidos na Cisjordânia. Já a ala militar do Hamas, as brigadas al-Qassam consideraram a proposta de tréguas totalmente inaceitável, e prometeram intensificar a sua “batalha feroz” contra Israel.
Os analistas e observadores internacionais repetiam ontem que ainda é possível chegar a um acordo de cessar-fogo satisfatório para ambas as partes – as manobras diplomáticas nesse sentido prosseguiam no Cairo. Mas até que estes contactos produzam resultados, a realidade é que a guerra prossegue em Gaza e Israel.
A entrada dos tanques israelitas na Faixa de Gaza tornou-se um cenário mais provável. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman, defendeu a reocupação de Gaza pelas forças israelitas, numa declaração que segundo os comentadores não era para levar a sério. Mas o vice-ministro da Defesa, Danny Ayalon, também previa uma invasão se o Hamas continuasse a disparar contra Israel. “A minha estimativa é que as IDF terão de entrar…”, escreveu na sua conta de Twitter. Uma reunião de emergência do gabinete de segurança foi marcada para o início da noite para “discutir as ramificações do fracasso do cessar-fogo”.
As brigadas al-Qassam reivindicaram a responsabilidade pelo assalto de artilharia à zona de fronteira, localidades costeiras de Israel e Telavive – foram disparados pelo menos 40 rockets durante o período em que, segundo os termos do acordo, as duas facções deveriam estar a reduzir as suas operações. Até ao fim do dia foram lançados outros 40, segundo as Forças de Defesa de Israel, com o sistema de defesa antiaéreo Iron Dome a interceptar todos os projécteis dirigidos às zonas urbanas.
Com o enclave novamente debaixo de fogo, as Nações Unidas e a Cruz Vermelha Internacional alertaram para as difíceis condições de vida dos palestinianos de Gaza, que se confrontam com a ruptura do abastecimento de água e luz e um risco acrescido de dispersão de doenças contagiosas. Os bombardeamentos já provocaram danos em escolas e centros de saúde geridos pela ONU, levando um porta-voz da organização a pedir a ambos as lados o “respeito pela santidade da população civil e da inviolabilidade das instalações das Nações Unidas”.
A agência humanitária das ONU declarou o estado de emergência em toda a Faixa de Gaza e apelou à assistência urgente de dezenas de milhares de refugiados.