Acidente de comboios que embaraçou a China provocado por falhas na gestão da rede
O relatório foi apresentado pelo próprio primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, revelando que, na sequência das investigações, 54 antigos e actuais responsáveis do Ministério dos Caminhos de Ferro vão ser alvo de punições administrativas, podendo ainda incorrer em processos judiciais. O ministério “não reagiu de forma adequada, não emitiu informação em tempo útil e não respondeu correctamente às preocupações do público”, revelou o Governo em comunicado.
Entre os sancionados está o ex-ministro Liu Zhijun, que à data do acidente tinha já sido demitido por suspeita de envolvimento num caso de corrupção. Ainda assim, o relatório diz que é dele “a principal responsabilidade pelo acidente”, já que os erros detectados foram cometidos durante o período em que esteve à frente do ministério.
O acidente ocorreu a 23 de Julho, nos arredores de Wenzhou, cidade em franco crescimento na costa sudeste do país, depois de um comboio de alta velocidade ter ficado parado sobre um viaduto ao ser atingido por um relâmpago. A paragem não foi comunicada a tempo e um segundo comboio que circulava na mesma linha acabou por chocar com a composição, lançando quatro carruagens para fora do viaduto.
Além das 40 vítimas mortais, perto de 200 pessoas ficaram feridas no acidente, que despertou uma onda de críticas nas redes sociais e forçou o Governo chinês a suspender os novos projectos de alta velocidade e a chamar para verificações todos os comboios da emblemática linha Pequim-Xangai.
Mais do que um revés para um projecto que a China apresentou como exemplo da ascensão económica e do desenvolvimento tecnológico do país, o acidente pôs em causa os planos de Pequim para se tornar um concorrente dos grandes fabricantes ferroviários mundiais, como a Siemens ou a Bombardier.
O relatório agora conhecido reafirma as conclusões preliminares, que descartaram a existência de quaisquer defeitos nos comboios de alta velocidade, imputando culpas a falhas graves no sistema de sinalização da rede e a uma reacção desadequada à imobilização do primeiro comboio. Em consequência, o executivo ordenou uma “revisão completa da gestão de segurança da rede ferroviária”, garantindo, no entanto, que os projectos de expansão da alta velocidade vão prosseguir – Pequim pretende construir 16 mil quilómetros de linha até 2015, dotando o país da maior rede de comboios rápidos do mundo.