À Transnístria
É bom saber que é verdade uma coisa que parece mentira. Chama-se aprender. Apanhar mentiras é mais difícil.
Primeiro li Stuart Elliott no New York Times sobre a maneira como os publicitários usam o dia 1 de Abril para promover as marcas. O ano passado a FreshDirect anunciou que tinha à venda um híbrido de um blueberry e de uma banana: uma bluenana.
Este ano enganou os clientes prometendo salmão apanhado por águias – quando se clica na imagem inspiradora aparece o tradicional "April fools!" e o convite para comprar o salmão que eles vendem.
A seguir passei para o Guardian sempre à coca da mentira deles. Li o título de uma crónica de Paul Mason e senti que a tinha apanhado: "If Transnistria is the next flashpoint between Putin and the west, how should Europe react?"
Porque a Transnístria não existe, claro. Em 1977, o mesmo jornal inventou um arquipélago tropical chamado San Serriffe, em que todos os locais tinham nomes tipográficos.
Fui ao Google e vi várias outras notícias sobre a Transnístria. Seria uma mentira concertada? Levou uns bons sessenta segundos para descobrir a minha ignorância. A Transnístria não só existe como é politicamente relevante.
Lendo os jornais no dia 1 de Abril, desconfio de quase um terço. O que aprendi foi a minha ignorância e a facilidade com que me convencem de que isto ou aquilo se passou.
Se calhar deveria ler os jornais todos os dias desta maneira desconfiada, para tomar consciência da minha vulnerabilidade. É bom saber que é verdade uma coisa que parece mentira. Chama-se aprender. Apanhar mentiras é mais difícil.