A noite foi dos republicanos e com mais foguetes do que se esperava

Republicanos garantem pelo menos 52 lugares no Senado e reforçam maioria na Câmara dos Representantes. Presidente Obama convoca reunião com os líderes de ambos os partidos para sexta-feira.

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Florida. Apoiantes do candidato democrata Charlie Crist Joe Raedle/Getty Images/AFP
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Colorado. Campanha de John Eads Marc Piscotty/Getty Images/AFP
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Colorado. Candidato republicano Walker Stapleton Marc Piscotty/Getty Images/AFP
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Califórnia. Votação Mike Blake/Reuters
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Illinois. Votação Jim Young/Reuters
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Colorado. Campanha republicana Rick Wilking/Reuters
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Carolina do Norte. Apoiante do democrata Kay Hagan Chris Keane/Reuters
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Missouri. Votação Whitney Curtis/Reuters
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Florida. Apoiantes do candidato democrata Charlie Crist Joe Raedle/Getty Images/AFP
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Kentucky. Apoiantes da democrata Alison Lundergan Grimes Win McNamee/Getty Images/AFP
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Georgia. Apoiante do candidato republicano David Perdue Jason Getz/Getty Images/AFP
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Missouri. Autocolantes "I Voted" Scott Olson/Getty Images/AFP
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Carolina do Norte. Apoiantes do democrata Kay Hagan Alex Wong/Getty Images/AFP
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Nova Iorque. Campanha pelo democrata Andrew Cuomo Lucas Jackson/Reuters
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Iowa. Candidata republicana Joni Ernst Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
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Florida. Candidato democrata Charlie Crist Joe Raedle/Getty Images/AFP
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Texas. Votação Erich Schlegel/Getty Images/AFP
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Pennsylvania. Campanha pelo democrata Tom Wolf Mark Makela/Reuters
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Iowa. Campanha republicana de Joni Ernst Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
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Georgia. Apoiante da candidata democrata Michelle Nunn Jessica McGowan/Getty Images/AFP
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Wisconsin. Apoianates do republicano Scott Walker Sara Stathas/Reuters
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North Carolina. Voluntários na organização das eleições Chris Keane/Reuters
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Nova Iorque. Candidato democrata Andrew Cuomo Lucas Jackson/Reuters
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Florida. Campanha do democrata Charlie Crist Scott Audette/Reuters
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Louisiana. Senadora Mary Landrieu Stacy Revere/Getty Images/AFP
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Pennsylvania. Campanha pelo democrata Tom Wolf Mark Makela/Reuters
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Florida. Campanha do democrata Charlie Crist Scott Audette/Reuters
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New Orleans. Campanha da senadora democrata Mary Landrieu Jonathan Bachman/Reuters
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New Hampshire. Campanha do senador republicano Scott Brown Gretchen Ertl/Reuters
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New Hampshire. Senadora Jeanne Shaheen celebra reeleição Brian Snyder/Reuters
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Kansas. Apoiantes de Greg Orman Julie Denesha/Getty Images/AFP
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Illinois. Votação Jim Young/Reuters

À entrada para a recta final das eleições intercalares de terça-feira, o Partido Republicano precisava de conquistar seis lugares no Senado para roubar a maioria ao Partido Democrata. Pouco depois das 23h30 (hora em Washington D.C., 4h30 de quarta-feira em Lisboa), a discussão sobre uma provável maioria desapareceu das análises e deu lugar a uma outra pergunta: houve ou não uma “vaga republicana” nas eleições que levou tudo à sua frente - principalmente o que restava da popularidade do Presidente Barack Obama?

Depois de conquistados quatro dos seis estados necessários para a maioria - Virgínia Ocidental, Arkansas, Dakota do Sul e Montana -, as vitórias mais surpreendentes no Colorado e na Carolina do Norte carimbaram a viragem no Senado. Um pouco mais tarde, a republicana Joni Ernst derrotou o democrata Bruce Braley no estado do Iowa e deixou os republicanos com um resultado acima do esperado: sete lugares retirados aos democratas.

E a “vaga conservadora” cresceu ainda mais, para um total de nove estados: contados os votos no Alaska, confirmou-se a eleição do republicano Dan Sullivan. No Louisiana nenhum dos candidatos obteve 50% dos votos, pelo que a eleição será repetida em Dezembro entre os dois candidatos mais votados. Neste caso,a repetição da corrida favorece também o republicano Bill Cassidy, que apesar de ter obtido menos um ponto do que a rival democrata Mary Landrieu (42%), deverá receber a maioria dos votos que lhe foram retirados na terça-feira por um outro candidato republicano, Rob Maness, que obteve 14% dos votos.

"O castigo vai ser grande"
Poucas horas antes do fecho das urnas, na sede do Partido Republicano da Carolina do Norte, em Raleigh, 18 voluntários mantinham os olhos colados aos seus computadores portáteis, à espera de boas notícias. Will Allison, 28 anos, é o porta-voz do partido no estado que acabou por ser uma das maiores surpresas da noite. Depois de nos oferecer umas das últimas guloseimas que sobraram do Halloween, aponta-nos o caminho do Shuckers, o bar onde os republicanos de Raleigh acabariam por fazer a festa.

Balões encarnados e azuis, e as inevitáveis bandeiras dos Estados Unidos, indicavam o caminho para a sala do fundo, onde os convidados se misturavam com jovens agarrados a computadores e smartphones, a seguirem todos os passos através do Twitter.

“Estamos com um bom pressentimento, mas a corrida está muito renhida”, admitia Will Allison, calmo por fora e a roer as unhas por dentro.

Cá fora, entre cigarros e abraços, um jovem casal faz tempo para entrar no bar, mas não na festa dos republicanos.

“Não sigo nenhum partido em particular”, diz Hayes Bradshaw, 27 anos. “Há muitas coisas que têm de ser melhoradas. A marijuana tem de ser legalizada, o controlo de armas tem de ser mais apertado. Defendo o direito ao porte de armas, mas tem de haver mais controlo. Para além disso não sei muito mais, é por isso que contratam pessoas mais bem preparadas do que eu para pensar nessas coisas.”

Com um pouco de insistência, Hayes mostra que está muito bem preparado para discutir assuntos de forma mais séria: “O principal assunto é o nosso sistema de educação. Há muitas pessoas a desistir das escolas secundárias. Devíamos estar a inspirar as pessoas a terem mais educação em vez de lhes mostrarmos onde vão parar sem ela.”

Apesar de o Partido Democrata tentar fazer passar a mensagem de que não era o Presidente quem estava em causa nestas eleições, a verdade é que vários candidatos democratas tentaram afastar-se da imagem de Barack Obama, principalmente os que tinham como função lutar em estados em que a Casa Branca tem uma taxa de reprovação ainda mais baixa do que a nível nacional. A candidata ao Senado pelo Partido Democrata no estado do Kentucky, Alison Lundergan Grimes, chegou mesmo a fugir à pergunta sobre se tinha votado em Obama em 2008 e 2012, dizendo que respeita “o carácter sagrado do acto eleitoral”.

Esta foi uma das principais questões que dividiram o Partido Democrata, entre os que defendiam um maior envolvimento do Presidente na campanha e os que o consideravam um fardo pesado de mais para carregar em estados de maioria republicana ou com uma imagem muito negativa da actuação da Casa Branca.

Um dos grandes vencedores da noite eleitoral foi o republicano Mitch McConnell, que não só deixou a sua adversária Alison Lundergan Grimes a 15 pontos percentuais (56% contra 41%) como é o mais do que provável futuro presidente da maioria no Senado.

No seu discurso de vitória, McConnell deixou mensagens contraditórias sobre o que fará como líder do Senado, em conjunto com John Boehner, o republicano que vê também a sua liderança reforçada na Câmara dos Representantes.

“Temos a obrigação de trabalhar em conjunto [com a Casa Branca] nos assuntos em que podemos chegar a acordo. Mas não estou à espera que o Presidente acorde amanhã de manhã com uma visão do mundo diferente. E ele sabe que isso também não vai acontecer comigo”, disse Mitch McConnell.

O presidente da Comissão Nacional do Partido Republicano, Reince Priebus, foi mais directo e deixou no ar a ideia de que as batalhas travadas em Washington nos últimos anos vão transformar-se numa guerra aberta, agora que o partido domina as duas câmaras do Congresso: “Barack Obama deixou o nosso país numa vala, e muitos dos seus apoiantes políticos que concorreram ao Senado estavam lá com ele. O castigo vai ser muito grande e muito sério”, avisou.

Horas antes do anúncio dos resultados, o Presidente Barack Obama já tinha dado sinais de que teria de conceder a derrota pouco tempo depois, ao assinalar que os lugares em disputa este ano constituem “o pior grupo de estados possível desde Dwight Eisenhower.” Obama convocou uma reunião com os líderes republicanos e democratas de ambas as câmaras do Congresso para sexta-feira.

A questão agora é saber o que fará o Partido Republicano com a sua primeira maioria no Congresso nos últimos oito anos - uma política de concessões menores para não afastar os seus apoiantes mais moderados, ou uma política de confrontação total, depois de uma vitória retumbante como a que foi alcançada esta terça-feira?

Para a maioria dos eleitores dos Estados Unidos, a resposta é fácil (mais diálogo e mais trabalho em conjunto para fazer avançar o país), mas a mensagem dos cidadãos nem sempre é um indicador certo de que o partido irá segui-la.

Eleitores insatisfeitos com Obama e com política
Nas sondagens à boca das urnas realizada pela CNN, o Presidente Barack Obama ficou muito mal na imagem, mas nenhum dos partidos pode ficar a rir-se, com mais vaga eleitoral ou menos vaga eleitoral. Mais do que um voto de confiança no Partido Republicano e um puxão de orelhas a Barack Obama, os eleitores parecem estar furiosos com tudo e todos em Washington, exigindo que a Casa Branca e o Congresso se entendam sobre os assuntos que consideram essenciais - o principal dos quais é válido hoje como era há 24 anos, quando o então candidato Bill Clinton concorreu contra o Presidente George H. W. Bush: “É a economia, estúpido.”

Somando a percentagem dos eleitores que dizem estar furiosos ou insatisfeitos com a actuação de Barack Obama, o resultado chega aos 58%, mas os líderes do Partido Republicano no Congresso têm um desempenho ainda pior, nos 59%. Em relação aos dois partidos, a situação é semelhante: 53% de opiniões desfavoráveis ao Partido Democrata e 56% ao Partido Republicano.

Nada, nem ninguém, escapa à fúria dos eleitores norte-americanos, em particular o Congresso: 79% dos inquiridos desaprovam a forma como se faz política em Washington, apesar de muitos deles terem votado no Partido Republicano nas eleições desta terça-feira.

Quanto às principais preocupações, a economia do país surge em primeiro lugar, com 45%, quase o dobro do sistema de saúde, que preocupa 25% do eleitorado. A política externa e a imigração, que têm ocupado muito espaço informativo nos media, não estavam na cabeça de mais do que 14% das pessoas que votaram na terça-feira. A Casa Branca insiste que o problema é a mensagem, porque a economia está a melhorar e a situação nos Estados Unidos é hoje melhor do que era há seis anos, quando Barack Obama chegou à presidência. Seja qual for a realidade, a mensagem não está definitivamente a passar: 78% dos eleitores estão preocupados com as condições económicas, e foi com esse receio que votaram nas eleições intercalares.

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