A esquerda e o Papa Francisco
Alguém se esqueceu de prevenir Francisco que a popularidade, como o populismo, não costumam durar.
A insistência do Papa na horrível pobreza do mundo e na condenação da desordem e da injustiça, que a banca e os mercados criam, tem um ar de família e podiam entrar com facilidade numa conversa do Partido Socialista. Ainda por cima, Francisco parece mais tolerante com os costumes sexuais do tempo. Sobre homossexuais, disse: “Quem sou eu para os julgar?”. E fala da plena participação na vida da Igreja (incluindo a comunhão) dos divorciados, dos re-casados, mesmo de outras mais vagas “vivências” matrimoniais do seu rebanho.
Isto, que não traz nada de novo ao catolicismo, foi aclamado como uma espécie de revelação. O Papa não passa os limites da “doutrina social” da Igreja ou do Catecismo decretado por Ratzinger. O que ele trouxe de novo está mais no espectáculo do que na substância. Não quis viver no palácio pontifical, cozinha de quando em quando o seu jantar, dá boleias no papamobile, lava pés com entusiasmo e quase que roça a santidade na sua paixão por um clube de futebol, o San Lorenzo de Almagro. Mas no seu fervor a esquerda vai esquecendoque ele, no meio deste ruído mediático, não tocou (e provavelmente não tocará) nas grandes questões que afligem os católicos: desde o casamento homossexual à ordenação das mulheres e à democratização interna da Igreja (embora ele se designe modestamente a si próprio como “o bispo de Roma”).
A desilusão virá para a esquerda e para dez milhões de seguidores que o acompanham hoje no “Twitter”. Alguém se esqueceu de prevenir Francisco que a popularidade, como o populismo, não costumam durar. O repertório de um Papa é forçosamente curto e a incessante repetição de uma conversa petrificada por 2 000 anos de tradição acaba sempre por desinteressar os mais fiéis dos fiéis. Sobretudo se não assentar em acções pertinentes. Os primeiros franciscanos desistiram da pobreza de S. Francisco e não tardou que se tornassem uma ordem esplendorosa e riquíssima, que fazia inveja a toda a Cristandade. Não sei a que levará este novo estilo de Jorge Bergoglio. Mas sei que a extraordinária apoteose de 2013 não se repetirá. E suponho que o Papa dos “pobrezinhos” também sabe.