A casa dela é um museu do Holocausto nos territórios ocupados da Palestina
Irena Wodzislawski quer que ninguém se esqueça do que se passou com os judeus.
Irena Wodzislawski, de 77 anos, explica que foi o seu marido, Yaacov, que iniciou este projecto em 2003, como uma forma de vingança pela morte da comunidade judaica, incluindo grande parte da sua família, na sua cidade natal de Czestochowa, na Polónia.
Depois da morte de Yaacov, é Irena que guia grupos de jovens e soldados israelitas através de uma colecção privada de um milhar de recordações do Holocausto, protegida em montras de vidro e que inclui postais escritos por prisioneiros dos campos de concentração, além dos característicos uniformes às riscas que aqueles eram obrigados a usar.
Apesar de o museu Yad Vashem ter uma das maiores colecções de documentos sobre o Holocausto em Israel, e de atrair regularmente milhares de turistas, Wodzislawski diz que sendo ela uma sobrevivente do massacre pode oferecer aos visitantes uma perspectiva mais íntima e pessoal no seu museu.
Irena sobreviveu ao Holocausto em Przemysl, passando grande parte da sua infância escondida na casa de uma família cristã depois de a sua mãe ter desaparecido do gueto judeu da aldeia para nunca mais voltar. Mais tarde, Wodzislawski emigrou para a Palestina, ainda sob mandato britânico alguns anos antes do estabelecimento do Estado de Israel em 1948.
Hoje vive no colonato de Ariel, que foi crescendo nos territórios ocupados da Cisjordânia.
Wodzislawski, uma engenheira química que trabalhou no Ministério da Defesa em Israel, e o marido adquiriram grande parte da colecção exposta no museu através das viagens que realizaram pela Europa Oriental, com o intuito de preservar os vestígios que restam das comunidades judaicas destruídas.
"Cheias de fome"
No museu de quatro andares, os artigos aparentemente mais comuns são os que despertam maior curiosidade aos visitantes. Wodzislawski dá como exemplo um postal datado de 19 de Maio de 1941 que uma mulher chamada Hanna Lam envia a partir do gueto judeu em Varsóvia – local onde os alemães concentraram a população judaica que era forçada a viver sob condições miseráveis. “Benyush e a sua mãe estão deitadas na cama e completamente esfomeadas. As raparigas saem para mendigar todos os dias e chegam quase sempre a casa cheias de fome”, dizia o postal.
Wodzislawski, que pertence a uma comunidade de 200 mil sobreviventes do Holocausto em Israel, espera que o seu museu, financiado pela cidade de Ariel e por donativos privados, permaneça aberto mesmo após a sua morte.
Questionada sobre a sua residência no colonato de Ariel, Wodzislawski explica que a escolha de viver ali não se prendeu com motivações políticas mas sim com o preço mais barato das habitações, o que permitiu a compra de uma casa maior e possibilitou a construção do projecto do museu.
“Uma rapariga visitou o museu e disse-me há uma semana: ‘Eu nunca tinha visto um sobrevivente do Holocausto.’ Ela abraçou-me e beijou-me.De que mais preciso eu?”, resume Wodzislawski.