Wolfowitz admite que petróleo justificou guerra contra o Iraque

O "número dois" do Pentágono, Paul Wolfowitz, disse ontem que o principal motivo da acção militar contra o Iraque foi o petróleo. O secretário de Estado adjunto da Defesa, que já tinha fragilizado a posição do chefe do Governo britânico, Tony Blair, sobre a polémica em torno das armas de destruição maciça (ADM) ao descrevê-las como "justificação burocrática" para a guerra, foi agora mais longe ao afirmar que a invasão militar pode ser justificada pelo facto de o Iraque "nadar" em petróleo. De acordo com a edição "online" do jornal "The Guardian", Wolfowitz emitiu estas declarações quando discursava perante delegados numa cimeira sobre segurança na Ásia e que decorreu em Singapura no passado fim-de-semana. Ao ser questionado pelo facto de uma potência nuclear como a Coreia do Norte merecer uma abordagem diferente do Iraque, o "falcão" do Pentágono admitiu que a principal diferença entre os dois países "é que economicamente não tínhamos escolha no Iraque. O país nada num mar de petróleo".Quase dois meses após a queda de Bagdad permanecem por descobrir as propagadas ADM iraquianas, o principal argumento que então justificou a invasão militar, uma situação que está a originar alguns incómodos para os Executivos de Londres e também de Washington.O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, rejeitou ontem as acusações de manipulação da opinião pública, após diversos "media" se terem referido à falsificação de um relatório dos serviços secretos relacionado com a ameaça iraquiana. Perante esta situação, vai ter para já que se submeter aos inquéritos de duas comissões parlamentares. Regressado a Londres na terça-feira após uma intensa maratona diplomática, o chefe do Governo britânico viu-se confrontado com uma série de incómodas questões de deputados de todos os quadrantes, incluindo do seu Partido Trabalhista (Labour). Os parlamentares querem saber se Downing Street reescreveu em Setembro passado um relatório dos serviços secretos britânicos (MI6), e onde se afirmava que o ex-Presidente do Iraque Saddam Hussein "podia utilizar as suas ADM" num prazo de 45 minutos. Blair continua a insistir que são "completa e totalmente falsas" as alegações de que a referência aos 45 minutos foi acrescentada ao relatório dos serviços secretos "a pedido" de Downing Street. De acordo com diversos "media" esta informação alarmista e considerada pouco fiável pelos serviços secretos britânicos foi acrescentada após diversas insistências do Executivo, com o objectivo de "consolidar" as argumentações do Governo e convencer uma opinião pública muito crítica face à guerra. Blair negou que a informação proviera de um exilado iraquiano de credibilidade duvidosa, e referiu ter-se baseado "numa fonte regular e fiável". A comissão dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Comuns, considerada mais influente e independente do Governo, anunciou terça-feira que vai abrir um inquérito e prevê a publicação do relatório no próximo mês. No entanto, as suas investigações também são limitadas, pelo facto de não poder ter acesso às informações dos serviços secretos sem autorização do Executivo. Nos Estados Unidos, o Senado vai proceder a audições públicas para determinar se as informações provenientes dos serviços de informações também foram manipuladas ou exageradas. Perante uma situação cada vez mais incómoda, o Congresso Nacional Iraquiano (CNI) também optou por garantir que nunca forneceu falsos relatórios sobre a presença no Iraque de ADM. Dirigido por Ahmed Chalabi, o CNI esteve na origem, nos últimos anos, de diversas revelações emitidas a partir do Reino Unido sobre a presença no Iraque deste armamento proibido. Diversos analistas consideram no entanto que Chalabi foi decisivo na preparação da estratégia para divulgar este género de informações.

Sugerir correcção