Wikileaks atinge EUA com "impacto máximo"

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Os civis pagaram o preço mais elevado da guerra no Iraque CHRIS HONDROS/GETTY IMAGES

Washington sabia afinal quantos civis morreram no Iraque: 66.081, mais 15 mil do que se estimava até agora. As tropas americanas fecharam os olhos à violência sobre detidos

Os Estados Unidos ignoraram milhares de casos de violência sobre detidos levados a cabo pelas forças iraquianas - tortura, violação e até assassínios, dizem os documentos dados pelo site Wikileaks a vários órgãos de comunicação social, incluindo o diário britânico The Guardian e a estação de televisão pan-árabe Al-Jazira.

E apesar de dizerem repetidas vezes que não havia dados exactos sobre o número de mortes durante a guerra no país, as autoridades americanas têm registo de 66.081 vítimas civis - mais 15 mil do que se pensava.

Estes eram os pontos destacados pelo Guardian entreos 400 mil ficheiros de um período que vai de Janeiro de 2004 a 31 de Dezembro de 2009.O jornal referia também a revelação de que a tripulação de um helicóptero de combate envolvida num polémico ataque em Bagdad (ver texto em baixo) matara tempos antes rebeldes iraquianos que tentavam render-se.

A Al-Jazira comentou a tortura de civis a que o Exército americano fechou os olhos. "Apesar de um dos objectivos da guerra do Iraque ter sido o encerrar dos centros de tortura de Saddam Hussein, os documentos do Wikileaks mostram muitos casos de tortura e abuso de prisioneiros por polícias e soldados iraquianos", segundo um comunicado enviado à AFP. Na primeira peça sobre o assunto, a Al-Jazira quantifica: em mais de 1300 vezes, tropas americanas reportaram as alegações aos superiores... mas não há casos conhecidos de punição de membros das forças de segurança do Iraque.

A estação cita exemplos tirados dos documentos americanos: "o detido estava de olhos vendados", "foi espancado com um objecto pesado", "esmurrado na face e cabeça", "foi usada electricidade nos seus pés e genitais", "foi sodomizado com uma garrafa de água". Noutros casos, a conclusão era mais simples: "A polícia iraquiana espancou o detido até à morte."

Apesar disso, as autoridades americanas fechavam os processos com o carimbo "não é necessária mais investigação", passando os casos às mesmas unidades iraquianas envolvidas na violência, diz o Guardian. Em contrapartida, todas as denúncias envolvendo forças da coligação eram sujeitas a inquéritos formais.

Segundo os documentos citados pela Al-Jazira, "foram mortos centenas de civis durante a guerra nos checkpoints do Exército americano". A estação menciona ainda casos até agora desconhecidos de disparos contra civis efectuados pela empresa privada de segurança Blackwater.

Outra das conclusões diz respeito ao "envolvimento secreto do Irão no financiamento das milícias xiitas" e "o papel dos Guardas da Revolução [iranianos] enquanto fornecedores presumíveis de armas aos insurrectos xiitas" no âmbito de uma "guerra secreta entre Irão e Iraque".

Ainda antes da divulgação destas informações, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, condenou "em termos muito claros" a revelação de quaisquer documentos que possam pôr em risco a vida de americanos.

O Wikileaks, um site dedicado a expor informação que os governos querem manter secreta, ganhou especial notoriedade com a divulgação de mais de 91 mil documentos classificados dos EUA sobre a guerra no Afeganistão, em Julho. Washington criticou a divulgação de informação que, argumentou, colocava em risco as tropas no terreno.

Ontem, o Wikileaks prometeu para hoje "revelações importantes" sobre a guerra no Iraque. O Pentágono tinha 120 peritos a postos para analisar esta fuga, mas dizia não esperar "grandes surpresas". A divulgação, com o "impacto máximo" prometido no Twitter do Wikileaks, começou a ser feita pela Al-Jazira por volta das 21hem Lisboa.

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